A indústria automóvel da África do Sul, uma das mais estratégicas para a economia do país, poderá enfrentar um duro revés com a entrada em vigor das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos a partir de 3 de Abril. O Governo sul-africano, através do Ministério do Comércio, Indústria e Concorrência, anunciou que pretende abrir negociações com Washington para evitar os impactos negativos destas medidas.
O executivo norte-americano decidiu aplicar uma tarifa de 25% sobre a importação de automóveis e certas peças sob o argumento de protecção da segurança nacional, ao abrigo da secção 232 da Lei de Expansão Comercial de 1962. A decisão deverá anular os benefícios da Lei de Crescimento e Oportunidade para África (AGOA), que permite a entrada isenta de direitos alfandegários de milhares de produtos africanos no mercado norte-americano.
Actualmente, 64% das exportações automóveis sul-africanas para os EUA são realizadas ao abrigo da AGOA. Só em 2023, o valor das exportações de veículos e componentes rondou os 2,4 mil milhões de dólares. O sector representa mais de 5% do PIB sul-africano e emprega mais de 116 mil pessoas, sendo um dos pilares da indústria nacional.
Contudo, o Departamento de Comércio sul-africano sublinha que as exportações do país representam apenas 0,99% do total de importações de veículos dos EUA e 0,27% das de peças automóveis, não constituindo, portanto, qualquer ameaça real para a indústria americana.
As autoridades sul-africanas temem que se repita o precedente criado em casos anteriores, como os do aço e alumínio, em que os benefícios da AGOA foram suspensos com base em argumentos de segurança nacional. Neste contexto, a África do Sul poderá avançar com a proposta de um acordo bilateral com os Estados Unidos, considerado mais sólido e previsível do que o regime preferencial actualmente em vigor.
O Governo de Pretória, liderado por Cyril Ramaphosa, procura igualmente reconfigurar as suas relações com Washington, deterioradas desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca. A administração Trump suspendeu parte da ajuda à África do Sul com base em alegações infundadas sobre expropriações de terras a agricultores brancos e tem criticado o país pelas suas posições diplomáticas, nomeadamente as relações com o Irão e a apresentação de uma queixa no Tribunal Internacional de Justiça contra Israel por alegado genocídio em Gaza.
Enquanto isso, o Conselho Empresarial Automóvel da África do Sul (Naamsa), que reúne gigantes como a Volkswagen e a Toyota, encontra-se em diálogo com o Governo para definir uma estratégia de lobby que permita obter uma isenção das novas tarifas norte-americanas.
Fonte: O Económico