InícioEconomiaInovação Digital E Finanças: A Nova Era Do Sistema Financeiro Global

Inovação Digital E Finanças: A Nova Era Do Sistema Financeiro Global

A revolução digital nas finanças está a desafiar os alicerces do sistema bancário tradicional. Fintechs, plataformas digitais, criptoativos e inteligência artificial estão a reconfigurar o modo como as pessoas pagam, poupam, investem e pedem crédito. O futuro das finanças poderá não ser uma substituição entre velhos e novos atores, mas sim um ecossistema híbrido e competitivo, que combina inovação tecnológica com regulação inteligente.

A última década assistiu à ascensão das fintechs e das big techs no sector financeiro. Empresas que começaram por gerir pagamentos agora oferecem crédito, seguros e soluções de investimento, enquanto bancos tradicionais, pressionados pela concorrência, adaptam-se a modelos mais digitais e baseados em dados.

Os pagamentos digitais instantâneos tornaram-se o epicentro desta revolução. No Brasil, o sistema Pix, lançado em 2020 pelo banco central, é hoje usado por mais de 90% da população adulta para transações diárias. Na Índia, o Unified Payments Interface (UPI) conseguiu integrar bancos, fintechs e big techs numa plataforma interoperável, democratizando o acesso financeiro a milhões de cidadãos. Estes casos contrastam com os “jardins murados” de países como os EUA ou a China, onde carteiras digitais competem entre si sem interoperabilidade.

No campo do crédito digital, plataformas como Mercado Pago (Argentina) ou os programas de microcrédito da Alibaba (China) demonstram que a inovação consegue chegar a segmentos negligenciados pela banca tradicional. Nos EUA, fintechs especializadas têm canalizado crédito para regiões com elevado desemprego, onde os bancos evitam operar. Este fenómeno reduziu a exclusão financeira, mas também introduziu novos riscos de endividamento.

Os criptoativos e a finança descentralizada (DeFi) representam outra fronteira. Apesar da promessa de descentralização, o sector continua altamente intermediado por bolsas centralizadas e fundos, mantendo riscos de volatilidade extrema, fraudes e instabilidade. As stablecoins, ligadas ao dólar ou a outros ativos, oferecem uma alternativa menos volátil, mas levantam questões de soberania monetária, sobretudo em economias emergentes que dependem de políticas monetárias próprias para estabilizar as suas moedas.

Ainda assim, a tokenização e a programabilidade abrem caminho para transformações profundas, sobretudo em pagamentos internacionais, liquidações financeiras e gestão de colaterais. Projetos como o Agorá, que reúne bancos centrais e comerciais na exploração de um ledger unificado para pagamentos transfronteiriços, são um exemplo de como a cooperação público-privada pode moldar o futuro financeiro.

Impactos Para África E Moçambique

A experiência de países emergentes mostra que infraestruturas públicas de pagamentos digitais, quando bem reguladas, podem acelerar a inclusão financeira. Em África, iniciativas como o M-Pesa no Quénia e em Moçambique, já transformaram a forma como milhões de pessoas acedem a serviços financeiros. O desafio agora é evoluir para ecossistemas interoperáveis, que liguem carteiras digitais, bancos, seguros e crédito num ambiente integrado.

Para Moçambique, esta agenda digital é tanto uma oportunidade como uma necessidade. A inclusão financeira continua limitada, com grande parte da população fora do sistema bancário formal. Fintechs locais e parcerias com big techs podem alargar o acesso a crédito para PME’s e agricultores, reduzir custos de transação e reforçar a integração do país nos fluxos financeiros regionais.

Contudo, sem regulação robusta, políticas públicas proactivas e investimento em literacia digital, o risco é que as inovações aprofundem desigualdades ou exponham a economia a choques externos. A preparação de um quadro regulatório que permita inovação responsável será determinante para que Moçambique transforme a disrupção digital em motor de crescimento económico inclusivo.

Perspetiva Final

A fronteira entre tecnologia e finanças já não é apenas uma tendência global — é uma realidade que redefine mercados, empregos e sociedades. Para países emergentes como Moçambique, a escolha é clara: ou se criam as condições para absorver e adaptar estas inovações ao serviço do desenvolvimento, ou correm-se riscos de exclusão e dependência. O futuro das finanças será digital, mas a sua sustentabilidade dependerá das escolhas políticas e institucionais de hoje.

Fonte: O Económico

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