Questões-Chave:
O investimento privado em energia de fusão atingiu o seu ponto mais alto desde 2022, com um aumento de 2,64 mil milhões de dólares norte-americanos num único ano, segundo um inquérito da Fusion Industry Association. Contudo, empresas alertam que o sector ainda está longe da comercialização e exigirá muito mais capital para se tornar viável.
Segundo a Fusion Industry Association (FIA), sediada em Washington, os investimentos globais em empresas de fusão nuclear totalizam agora 9,77 mil milhões de dólares desde 2021 — um aumento de cinco vezes no período. O crescimento anual de 178%, comparado aos pouco mais de 900 milhões arrecadados no ano passado, reflecte um renovado entusiasmo dos investidores, apesar do contexto económico restritivo.
“A aceleração do capital, mesmo num ambiente económico apertado, é um sinal de confiança crescente dos investidores, progresso tecnológico e uma cadeia de fornecimento que se está a consolidar rapidamente”, afirmou Andrew Holland, director executivo da FIA.
A fusão nuclear, fenómeno responsável por alimentar o sol e as estrelas, ainda se encontra em fase experimental na Terra. A sua promessa reside no potencial de produzir grandes quantidades de energia limpa, sem emissão significativa de gases com efeito de estufa nem resíduos radioactivos de longa duração. Contudo, os desafios técnicos são imensos: desde conseguir reacções contínuas até ao desenvolvimento de sistemas eficazes para transmissão da energia gerada.
O relatório da FIA cobre 53 empresas privadas de fusão e não inclui financiamento público, onde a China é considerada líder mundial. Empresas com histórico nos combustíveis fósseis, como a Chevron e a Shell, assim como a Siemens Energy e a produtora de aço Nucor, estão entre os investidores que apostam no sector.
A crescente procura energética por parte de centros de dados e aplicações de inteligência artificial tem servido como catalisador adicional. Um dos exemplos mais mediáticos é o da Google, que anunciou um acordo para comprar energia de uma futura central da Commonwealth Fusion Systems no estado da Virgínia, com previsão de entrada em funcionamento na década de 2030.
Apesar do salto no financiamento, 83% das empresas inquiridas continuam a considerar difícil obter investimento. A maioria estima precisar de montantes adicionais que variam entre 3 milhões e 12,5 mil milhões de dólares, com um valor mediano de 700 milhões, apenas para lançar as primeiras centrais-piloto.
No total, o sector estima necessitar de cerca de 77 mil milhões de dólares — valor quase oito vezes superior ao já comprometido por investidores. No entanto, o estudo assinala que uma eventual consolidação da indústria poderá reduzir esta necessidade total de capital.
Fonte: O Económico