Investimentos no Brasil e na Namíbia e desinvestimento em Moçambique: A gestão de activos estratégicos da Galp

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A Galp Energia, uma das maiores petrolíferas portuguesas, atravessa uma fase de transição, marcada pela entrada de Maria João Carioca e João Diogo Silva nos cargos de CEO e COO, respetivamente. Esta mudança na liderança coincide com um reposicionamento estratégico focado na consolidação de activos no Brasil e na Namíbia, ao mesmo tempo em que a empresa optou por desinvestir na Área 4 da Bacia do Rovuma, em Moçambique. Essa decisão, alinhada a vendas similares em Angola, reflete a aposta em projectos de maior retorno, menor custo e alinhados à transição energética.

Desinvestimento em Moçambique: Uma decisão estratégica

A Galp anunciou recentemente a conclusão do desinvestimento na Área 4 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, um dos maiores depósitos de gás natural liquefeito (GNL) do mundo. A decisão foi justificada pela necessidade de “cristalizar valor” e redirecionar recursos para activos de maior previsibilidade, menor custo operacional e menor intensidade de carbono.

A venda da participação de 10% no projecto para a ADNOC, a petrolífera estatal de Abu Dhabi, reflecte o alinhamento da Galp com a tendência global de transição energética e responde a desafios específicos de Moçambique, incluindo riscos geopolíticos e operacionais associados à insurgência em Cabo Delgado. Segundo Filipe Silva, CEO da Galp, “estas decisões fazem parte de um movimento calculado para reduzir o risco e focar-se em oportunidades de expansão alinhadas com a transição energética global”.

Embora o projecto Rovuma LNG, que inclui o campo Coral Sul, continue a atrair interesse global, particularmente de mercados asiáticos em busca de diversificação energética, a Galp optou por priorizar activos que exijam menor intensidade de capital. Apesar disso, a empresa mantém a operação de “downstream” em Moçambique, como a distribuição de combustíveis, destacando a sua presença em sectores estratégicos do País.

Brasil e Namíbia: Pilares Estratégicos

Em contrapartida ao desinvestimento em Moçambique, o Brasil e a Namíbia continuam a figurar como pilares do portefólio estratégico da Galp. No Brasil, a produção no pré-sal da Bacia de Santos gera cerca de 112 mil barris de petróleo por dia, combinando baixos custos operacionais com margens elevadas. Este activo tem sido essencial para o desempenho financeiro da empresa, com o segmento de “upstream” a registar um EBITDA de 531 milhões de euros (cerca de 579,79 milhões de dólares) em 2024.

Na Namíbia, a Galp continua a investir em operações offshore promissoras, reforçando a sua presença em mercados emergentes ricos em hidrocarbonetos. Estes investimentos refletem o compromisso da empresa em diversificar o portefólio e assegurar retornos consistentes.

Desafios na Transição Energética

Embora a Galp tenha conseguido melhorar os lucros líquidos em 2024, o seu EBITDA ajustado caiu 7%, devido a factores como a volatilidade dos preços das matérias-primas e a desaceleração económica em mercados-chave, como a China. Estes desafios sublinham a complexidade de operar num sector em transição e a necessidade de equilibrar compromissos de descarbonização com resultados financeiros robustos.

A venda de activos em Moçambique e Angola permitiu libertar capital que está a ser redirecionado para energias renováveis, como parques solares e eólicos, e investimentos em bioenergia. Contudo, este reposicionamento não está isento de riscos, dado o ritmo acelerado das mudanças no mercado energético global.

Perspectivas futuras

A Galp encontra-se num ponto crítico de evolução estratégica. A decisão de desinvestir na Área 4 da Bacia do Rovuma, alinhada ao foco em activos de alto retorno e menor intensidade de carbono, reflete uma visão de longo prazo para se adaptar às exigências do sector energético global. No entanto, o sucesso dessa transição dependerá da capacidade da empresa de mitigar riscos associados a mudanças no mercado e de fortalecer a sua posição em sectores emergentes de energias limpas.

Com o Brasil e a Namíbia como pilares estratégicos, e um compromisso renovado com a sustentabilidade, a Galp posiciona-se para liderar a transição energética, ao mesmo tempo que mantém relevância nos mercados globais.

Fonte: O Económico

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