Por: Sara Seda
Laurinda, minha querida, não vais mbunhar, pelo menos, não no sentido clássico. Dizem que o mundo mudou. Que agora há mais oportunidades, mais liberdade, mais pão. Mas, se olharmos com atenção, ainda veremos muitas Laurindas espalhadas por aí, com outro nome, outra roupa, mas o mesmo peso no olhar. E atenção: não é que o mundo mudou, é que mudou a forma como se mbunha.
Antes, o drama era simples: não havia pão. Hoje, não há…dignidade.
Mas calma, que não é drama, é apenas um upgrade.
Laurinda, a mulher que acorda às quatro para apanhar chapa, atravessar meia cidade e chegar ao mercado antes do sol nascer, que luta contra o eco de vozes que lhe dizem: “tu vais mbunhar”, não vais conseguir.
E o padeiro? aquele que decide quem recebe o pão e quem vai mbunhar, ganhou novos rostos: o chefe que explora, o sistema que fecha portas, a indiferença social que finge não ver. Ah, e sobre sua identidade? agora veste terno, fala em PowerPoint e usa frases como “Estamos a trabalhar para melhorar”. Tradução: “Tu vais mbunhar, mas dito com classe e elegância.”
As filas? Ah, as filas!
Antes eram pelo pão, hoje são pelo sistema de saúde que só funciona se rezar Pai nosso, pelo emprego que não aparece, pelas eleições que prometem mundos e fundos e entregam pó.
Mas há algo que não mudou: a teimosia de Laurinda. Porque desistir ainda é um luxo que ela não pode pagar.
Entre um mbunhar e outro, Laurinda ensina a regra de ouro da sobrevivência moderna, por isso, se a vida te der limões, faz limonada. Se te disser “vais mbunhar: lembra-te de Laurinda, a de ontem e a de hoje, e responde com a voz dela, firme e serena:
“Não. Eu não vou mbunhar. Eu vou viver.”
Crónica inspirada no texto “Laurinda, tu vais mbunhar”, de Suleiman Cassamo






