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Wednesday, October 1, 2025
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«Leonardo Jardim estava na Argentina com Luís Campos quando reparámos no Mbappé»

Licenciado em Educação Física pela Universidade do Porto, trabalhou durante 16 anos ao lado de Leonardo Jardim. Foi do Desp. Chaves ao Mónaco, passou pelo Beira-Mar, Sp. Braga e Olympiakos, esteve no Sporting e teve as últimas experiências no Al-Hilal, Al-Ahli e Al-Rayyan.

Fez, por isso, parte da conquista da Liga dos Campeões Asiática em 2021 e dos campeonatos da Grécia, França, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Trabalhou de perto com estrelas como Mbappé ou Bernardo Silva, Falcão ou Fabinho, até com nomes grandes como Ruben Amorim e Nuno Gomes. Agora, aos 41 anos, assume o desejo de se tornar treinador principal.

Nesta terceira parte da entrevista ao Maisfutebol, Miguel Moita aborda o tempo passado no principado do Mónaco, e conta histórias inéditas dos jogadores que orientou. No primeiro treino de Mbappé com a equipa principal do Mónaco, por exemplo, quando maravilhou todos os adjuntos, Leonardo Jardim nem estava presente.

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O meu trabalho focava-se essencialmente na análise e na observação, em termos de dinâmicas e modelos de jogo. Nesse sentido, apesar de ver este tipo de jogadores como quaisquer outros, notava que estavam num patamar acima a nível desportivo. Depois o resto tem tudo a ver com a convivência. O João Moutinho era de muito bom trato, facilmente tinhas uma conversa com ele, convidava muitas vezes para ir a casa. O Bernardo Silva a mesma coisa. Muito simples, não ligava muito a carros, gostava muito de ler e estava num apartamento super regular lá no Mónaco. Por outro lado, o Berbatov já estava mais no final de carreira, era mais fechado e não conseguias falar tanto com ele. Já o Falcão tinha algo que nunca mais vi em nenhum jogador: no final dos treinos pedia sempre para organizarmos exercícios para ele treinar a finalização nos cruzamentos. Ele conseguia mobilizar ali quatro ou cinco colegas para ficarem depois do treino e procurava treinar o contacto dentro da grande área. Era fantástico.

Em termos de personalidade, notava-se que ainda era miúdo, ainda levou ali uma praxe do Moutinho no primeiro ano (risos). Mas era um miúdo que respirava futebol. Tinha uma capacidade técnica sensacional, associada a uma tomada de decisão que era fantástica para a idade dele. Sabia gerir os ritmos, tinha aquele perfume no jogo. O jogador que qualquer treinador quer ter. Ele é mesmo apaixonado por futebol. Ia para o treino sempre com alegria. Já sentia que ele tinha o potencial e foi sempre melhorando dia após dia, notava-se que iria evoluir, porque não é aquele jogador que se refugia no facto de saber que tem qualidade e por isso não se dedica. É totalmente o oposto. Mesmo sem bola, ele chegava a fazer 12 quilómtros em jogos de Champions League, não é qualquer médio que faz isso. É impressionante.

Trabalhar com o Leonardo era muito fácil. É uma pessoa que sabe delegar, sabe conversar com os jogadores diretamente. Era muito preocupado com o treino e com a antecipação dos problemas do dia a dia. Muitas vezes, antes do treino, já tinha ganho dia. Já tinha falado com um ou dois jogadores e já os tinha mentalizado da melhor forma antes dos treinos. Isto porque muitas vezes existem problemas de egos, problemas de agentes, problemas familiares e há que saber gerir isso. Ele fazia-o muito bem. Facilitava todo o nosso trabalho depois.

O Mbappé, sem dúvida. E eu digo isto sem hesitações porque o Mbappé foi aquele jogador que impressionou desde o primeiro dia. O Leonardo Jardim nem estava no primeiro treino do Mbappé com a equipa principal, estava na Argentina com o Luís Campos a ver jogadores, e ele impressionou toda a gente, todos os assistentes. Com 17 anos, no primeiro treino com os séniores, foi para cima de toda a gente a driblar sem medo e com sucesso. Não era driblar e perder a bola. Driblava e fazia golo a seguir. Tinha características muito boas e podia dar coisas diferentes à equipa. Naquela semana demos logo o toque ao treinador.

Nós, equipa técnica, alertámos naturalmente o Leonardo Jardim depois desse treino e a partir daí houve um acompanhamento. Não foi de um dia para o outro. Houve uma constante avaliação. Ele começou a destacar-se mais na equipa B e depois aos poucos começou a fazer uns minutos na equipa principal. Nos tempos seguintes até entrámos numa fase que era preocupante perder o Mbappé. Houve clubes que se começaram a aperceber e havia o risco de ele começar a falar com outras equipas. O agente era o pai e havia clubes a chegar com muito dinheiro na altura em que o Mónaco estava a tentar renovar com ele. Lembro-me bem do Leonardo dizer à direção que valia bem a pena investir no Mbappé porque ia-se recuperar tudo num par de anos. ‘Não se preocupem’, dizia ele. E estava certo.

O Martial, por outro lado, apesar da qualidade, até a forma de estar era diferente. O Martial era bom jogador e foi vendido como foi para o Manchester United (60 milhões de euros), mas às vezes parecia que estava desfocado da realidade. Parecia que tinha o seu próprio mundo e uma pessoa nem sabia se a informação falada nos treinos chegava até ele. Estava sempre muito desligado.

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Fonte: Mais Futebol

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