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Na abertura das Reuniões Anuais do Banco Africano de Desenvolvimento, em Abidjan, os líderes africanos lançaram um apelo vigoroso à mobilização de soluções internas para o desenvolvimento do continente. Um Diálogo Presidencial de Alto Nível marcou o início do encontro, com foco na necessidade de financiamento endógeno, integração regional e maior protagonismo económico de África no sistema global.
Sob o lema “Making Africa’s Capital Work Better for Africa’s Development”, as Reuniões Anuais 2025 do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que decorrem na Costa do Marfim, centraram-se na urgência de transformar os recursos africanos — naturais, financeiros e humanos — em motores reais de crescimento sustentável.
O Diálogo Presidencial de Alto Nível reuniu figuras como o Presidente do Gana, John Dramani Mahama, o Presidente das Comores, Azali Assoumani, o Vice-Presidente da Tanzânia, Philip Mpango, e o Primeiro-Ministro do Níger, Ali Lamine Zeine. O objectivo: traçar as bases da próxima fase do desenvolvimento continental, a partir de experiências nacionais e boas práticas que apontam para um modelo africano de financiamento e transformação económica.
O Presidente Mahama destacou os progressos do Gana na reestruturação da dívida, com previsão de redução do rácio dívida/PIB para 55% a 58% até ao fim do ano. Sublinhou ainda o papel do país como hub comercial regional, com portos modernizados ao serviço do comércio na África Ocidental e Central.
O Presidente Azali Assoumani enfatizou a importância da diáspora das Comores, cujas remessas ultrapassam a ajuda oficial ao desenvolvimento e representam cerca de 20% do PIB. O país está a criar mecanismos para facilitar os investimentos dos emigrantes, que representam metade da população total do arquipélago.
A Tanzânia, representada por Philip Mpango, destacou um pacto energético nacional no valor de 12,9 mil milhões de dólares, apoiado por uma barragem hidroeléctrica de 2.115 megawatts e pela exploração de reservas de gás natural. O financiamento foi assegurado por via de mecanismos internos inovadores, incluindo obrigações de infra-estrutura e fundos de pensões nacionais.
Do Níger, o Primeiro-Ministro Zeine revelou que o país atingiu a auto-suficiência alimentar pela primeira vez em seis décadas e reduziu a dependência energética de 70% para menos de 30%. A produção petrolífera deverá atingir os 30 milhões de barris em 2025, sustentando uma previsão de crescimento económico de 7,4%. O executivo compromete-se a aplicar essas receitas em políticas de redução da pobreza e desenvolvimento sustentável.
Integração Regional Como Motor Económico
A integração regional esteve no centro dos debates, com destaque para infra-estruturas como a Auto-Estrada Transaariana e as redes energéticas regionais. Os líderes insistiram que o crescimento económico de África está condicionado pela conectividade física, logística e comercial, sendo a AfCFTA (Zona de Comércio Livre Continental Africana) um eixo fundamental para a soberania económica.
O Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, reforçou que o continente deve ser o principal financiador do seu próprio futuro: “Não podemos continuar à espera do exterior. As nossas estradas, escolas e empregos devem ser construídos com o nosso capital. É tempo de investirmos em nós próprios.”
Despedida de Adesina: Um Apelo à Autossuficiência
No encerramento, o Presidente cessante do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, fez um balanço emocionado dos seus dois mandatos à frente da instituição. Citou o impacto de 91 mil milhões de dólares investidos, 565 milhões de vidas melhoradas e avanços em sectores como energia, inclusão financeira e segurança alimentar.
Concluiu com um apelo claro: “A África deve utilizar os seus próprios recursos para se erguer. O futuro está nas nossas mãos.”
Fonte: O Económico