As tarifas comerciais impostas pelo Presidente Donald Trump estão a gerar forte preocupação entre líderes empresariais e economistas, com vários especialistas a alertarem para uma escalada de conflitos comerciais e uma potencial recessão global. As medidas proteccionistas, que incluem tarifas de 25% sobre importações de alumínio e aço, afectam economias de todo o mundo e foram alvo de dura reacção da União Europeia.
Ameaça de Conflito Económico
No evento CONVERGE LIVE, organizado pela CNBC em Singapura, Ray Dalio, fundador da Bridgewater, alertou para o risco de “lutas” entre países devido às tarifas impostas pelos EUA. “Não estou a falar necessariamente de conflitos militares, mas de disputas comerciais que terão grandes consequências”, afirmou, mencionando a tensão entre os EUA, o Canadá, o México e a China.
Dalio comparou a situação actual com o proteccionismo da Alemanha nos anos 30, explicando que o aumento de tarifas pode ser usado como ferramenta para estimular a economia interna e reduzir a dívida. “Ser nacionalista, proteccionista e militarista é uma combinação perigosa”, alertou.
Marc Benioff, CEO da Salesforce, destacou que a reciprocidade no comércio internacional pode ser benéfica, mas alertou que a forma como estas medidas são implementadas pode causar “volatilidade e conflito” nos mercados globais.
Resposta Europeia e Escalada Comercial
A União Europeia retaliou rapidamente com tarifas sobre 26 mil milhões de euros (28,3 mil milhões de dólares) de produtos americanos, medida que entrará em vigor no próximo mês. “As tarifas são impostos que prejudicam as empresas e os consumidores, perturbam as cadeias de abastecimento e aumentam a incerteza económica”, afirmou Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia.
Em resposta, Donald Trump ameaçou impor novas tarifas sobre produtos europeus, afirmando que “se eles nos cobrarem, nós também lhes cobraremos”.
O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron expressou preocupação com a escalada da guerra comercial. “O comércio livre é um benefício para todas as partes envolvidas. Se todos os países tiverem superávits comerciais, quem terá um défice? Marte? Júpiter?”, ironizou Cameron, criticando a visão proteccionista da administração Trump.
Impacto Económico e Risco de Recessão
Alec Kersman, director da Pimco para a região da Ásia-Pacífico, alertou para o risco crescente de recessão nos EUA devido às tarifas. Segundo ele, a probabilidade de uma recessão em 2025 subiu para 35%, contra 15% em Dezembro de 2024. Kersman observou que a economia norte-americana poderá crescer apenas entre 1% e 1,5%, o que representa uma desaceleração significativa em relação a previsões anteriores.
Para Kersman, os mercados deverão ser “mais pacientes” antes de ajustarem os seus investimentos. “A globalização está a ser redireccionada e já não existem regras universais para o capital”, disse ele, alertando que estas medidas vão criar “vencedores e perdedores” no mercado internacional.
Impacto no Consumo e Reflexos na China
Apesar dos receios, Kamal Bhatia, CEO da Principal Asset Management, acredita que as guerras comerciais podem incentivar o consumo interno nos países afectados. “Muitos consumidores poderão gastar mais dentro dos seus próprios países, o que pode ter um efeito positivo no PIB”, afirmou.
Joe Tsai, presidente da Alibaba, partilha desta visão, destacando que o consumo interno da China precisa de um estímulo. “As tarifas vão impulsionar as despesas dos consumidores chineses, que têm mais de 20 biliões de dólares em depósitos bancários”, disse Tsai, expressando optimismo de que, apesar das tarifas, as relações comerciais entre os EUA e a China acabarão por melhorar.
As tarifas comerciais impostas pelos EUA e as retaliações da União Europeia estão a criar um ambiente de grande incerteza económica e comercial. Líderes empresariais e economistas estão divididos sobre os efeitos das medidas, com alguns a preverem um impacto negativo significativo no crescimento global, enquanto outros acreditam que podem estimular o consumo interno em algumas regiões.
O desenrolar desta disputa será crucial para o equilíbrio da economia mundial nos próximos meses, especialmente tendo em conta os riscos de recessão e a reconfiguração das relações comerciais entre as grandes potências económicas.
Fonte: O Económico