Resumo
Motoristas enfrentam longas filas e até quatro dias de espera na Estrada Nacional n.º 6 entre Manica e o Zimbabwe, devido a lentidão nos processos aduaneiros na fronteira de Machipanda. O congestionamento afeta o corredor logístico estratégico, contradizendo os planos de tornar Moçambique num hub regional eficiente. A falta de condições básicas e de segurança preocupa os motoristas, que denunciam a situação desumana de dormir junto das cargas para evitar roubos. As autoridades de Manica estão a colaborar com o Zimbabwe para melhorar os processos fronteiriços, incluindo a implementação de uma Paragem Única de Fronteira e a modernização das infraestruturas aduaneiras. Apesar do acordo para funcionamento contínuo das fronteiras, ainda persistem desafios significativos.
Motoristas permanecem dias retidos na EN6 entre Manica e o Zimbabwe, enquanto governos tentam desbloquear o corredor logístico
As longas filas de camiões que diariamente atravessam a fronteira de Machipanda, entre Moçambique e o Zimbabwe, estão a provocar desgaste físico e psicológico entre os automobilistas, que chegam a permanecer até quatro dias retidos na Estrada Nacional n.º 6 (EN6). O cenário repete-se num dos corredores estratégicos do país e vai em sentido contrário ao discurso oficial que aspira a transformar Moçambique num hub logístico regional eficiente, integrado e competitivo.
Um Corredor Estratégico em Colapso
A fronteira de Machipanda é uma das mais movimentadas de Moçambique, ligando o porto da Beira a países do interior como o Zimbabwe, a Zâmbia e o Malawi.
Do lado moçambicano, as filas chegam a 15 quilómetros, estendendo-se da cidade de Manica até ao posto fronteiriço. No lado zimbabweano, as filas atingem cinco quilómetros, num cenário de grande pressão sobre o tráfego de mercadorias.
De acordo com informações recolhidas pela Agência de Informação de Moçambique (AIM), o congestionamento resulta essencialmente da lentidão dos processos aduaneiros, agravada por limitações logísticas e deficiências de coordenação institucional entre os dois países.
Motoristas Reclamam Condições Precárias e Falta de Segurança
O camionista Ângelo Manhenga descreve a situação como “preocupante”, afirmando que há dias em que permanece “três a quatro dias na estrada” para chegar à fronteira.
“São duas enormes filas de camiões. Quando chegamos a Messica temos a primeira fila, onde foi montado um posto de controlo das alfândegas. Aí podemos ficar um ou dois dias. Depois há outra fila, desde Manica até Machipanda, uma distância de quase 15 quilómetros”, explicou.
A falta de condições básicas e de segurança é uma das principais queixas.
“Ficamos em zonas sem sanitários, sem comida e sem iluminação. Somos obrigados a dormir junto das cargas para evitar roubos. Chegamos a passar dias sem tomar banho. É uma situação desumana”, lamentou o motorista.
Outro transportador, Benedito Mateus, reforça a preocupação com a insegurança:
“Levamos carga do porto da Beira para o interior e ficamos a noite a vigiar os camiões. É arriscado e desgastante. Precisamos de uma solução rápida.”
Autoridades Trabalham em Soluções Estruturantes
O governo da província de Manica reconhece as dificuldades e assegura estar a trabalhar com as autoridades zimbabweanas para agilizar os processos fronteiriços e melhorar as condições de circulação no corredor.
Entre as medidas em estudo estão a criação de uma Paragem Única de Fronteira (PUF) e a modernização das infra-estruturas aduaneiras, de forma a reduzir tempos de espera e custos logísticos.
Em finais de 2024, Moçambique e Zimbabwe acordaram o funcionamento 24 horas por dia das fronteiras de Machipanda (Moçambique) e Forbes (Zimbabwe) — um passo importante, mas ainda insuficiente face à dimensão do problema.
Uma reunião bilateral entre os dois governos, agendada para esta terça-feira, deverá avaliar novas medidas conjuntas para aliviar o congestionamento e restaurar a normalidade operacional no corredor da Beira.
Desafio à Ambição de Moçambique como Hub Logístico Regional
A persistência destes constrangimentos na fronteira de Machipanda revela um descompasso entre a realidade operacional e a ambição estratégica de Moçambique de se afirmar como um hub logístico regional de referência.
O país tem vindo a projectar internacionalmente os seus corredores de desenvolvimento — Beira, Maputo e Nacala — como infra-estruturas vitais para o comércio intra-africano e a integração regional.
Contudo, episódios como este mostram que, sem eficiência administrativa, coordenação aduaneira, segurança e infra-estruturas modernas, a competitividade logística nacional permanece comprometida.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Especialistas alertam que, se não forem tomadas medidas urgentes, Moçambique corre o risco de perder terreno para corredores alternativos na região, como os de Durban e Dar es Salaam, que continuam a captar maior volume de tráfego regional.
Fonte: O Económico





