Luta entre gangues aumenta nas escolas secundárias da cidade e província de Maputo

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Há cada vez mais relatos de violência entre estudantes adolescentes organizados em grupos ou pequenas gangues nas escolas secundárias da cidade e província de Maputo. O Sociólogo José Bambo diz que a escola é um lugar inseguro que exige a presença constante policial. A Ministra da Educação diz conhecer o problema e promete endurecer as medidas escolares. 

Há sensivelmente uma semana dois adolescentes estudantes foram esfaqueados, durante uma briga entre grupos, próximo a escola básica de Matola Gare, tendo um deles perdido a vida. O outro está fora de perigo, mas há milhares de estudantes, na província e cidade de Maputo em constante perigo.

A nossa redacção visitou algumas escolas secundárias, que diferem dos nomes, mas partilham o mesmo problema, a violência, como disse o estudante Shelton João, estudante de uma escola secundária na cidade de Maputo. 

“Nas sextas-feiras aqui, de vez em quando, acontecem lutas, né? Devido aos alunos que saem, vão consumir bebidas alcoólicas e voltam aqui com confusão, começam a criar conflitos e começam a lutar”, disse.  

As lutas ou agressões são todas premeditadas, cada um com o seu grupo. 

“Alguns se aleijam, se furam, combinam para que noutra sexta-feira haja luta, é assim como funciona aqui”, disse o estudante, acrescendo que durante a luta “Qualquer instrumento que encontram, pegam. Outros lutam com as mãos, outros também já vêm armados, porque não são só alunos que vêm aqui para lutar, também há pessoas de fora que vêm aqui,  se aglomeram com esses alunos, formam uma gangue pra lutar”.

E são essas gangues que aterrorizam as escolas dos bairros Malhazine, Estrela Vermelha, Zona verde, Machava socimol e tantos outros, que Marcos Agostinho, também, estudante, já viu actuar.  

“Nem entram na escola, ficam cá fora, e esperam pessoas que realmente vieram pra estudar. E quando essas pessoas saem da escola, cometem esses actos, começam a provocar, começam a atacar. Infelizmente, isso acontece em quase todas as escolas.  Isso é verdade, não é só na escola, nem no próprio bairro Zona Verde, isso acontece em todas as escolas, em todos os bairros. Um exemplo é que eu sair mesmo desuniformizado e bater alguém,  a pessoa não vem sozinha, vem com mais de algumas pessoas”.

Os alunos relatam roubo de pertences e agressões em público durante o dia.

“Todo mundo consegue vir, todo mundo consegue assistir, muitas das vezes até as pessoas têm medo de ajudar, por medo de, no dia seguinte, procurarem na escola,  porque são pessoas que vivem perto, podem procurar no dia seguinte e voltarem a lhe agredir. Então, todo mundo, às vezes, só assiste”, disse Keny Mussumbi, também.

E o medo tem razão de ser. Temem retaliação.

“Lutam, se esfaqueiam, faltam com respeito, insultam pessoas, mesmo no meio das estradas, inclusive os próprios professores. São agredidos com os próprios alunos. O professor dentro da escola, às vezes, tem medo de educar o aluno, porque é o trabalho dele, porque no fim das aulas vão cercar o professor. Acontece muito, principalmente na escola secundária da Machava-Sede, revelou uma encarregada, que por temer represálias, falou em anonimato.

A encarregada disse ainda que a ausência da Polícia ao redor das escolas dá mais espaço ao crime.

“A polícia raramente passa daqui, nem sextas-feiras, não. Por isso que há lutas sempre. Eles fazem patrulha. Quando fazem patrulha, encontram alguma coisa,  estou falando de faca ou bebidas mesmo, e a criança tem um uniforme de escola X. Levam para a esquadra, ou, às vezes, o aluno nem chega na esquadra. No fim, vão escolher o que a criança tem: é telefone, 20 meticais eles levam.  Já acompanhei várias vezes, várias vezes já acompanhei isso”.

O Sociólogo José Bambo diz que o ambiente escolar é inseguro para os estudantes.

“Muitas vezes, as crianças, quando denunciam casos de violência, ao nível da escola, não encontram resposta. Então, pelo facto de não encontrar resposta ao nível da escola, recorrem, porque os seus irmãos mais velhos não estão disponíveis. Então recorrem àquelas gangues que existem ao nível da comunidade. Eles recorrem a amigos paralelos, vamos assim dizer,  que vão fora da escola para poderem fazer a tal de justiça, a responder àquelas ansiedades,  aquilo que eles não conseguem responder por si só”, disse Bambo.

Na recente visita do Presidente da República à província de Maputo, a ausência da polícia nas escolas foi uma das preocupações apresentadas.

“Várias vezes nós pedimos a presença da polícia pelas escolas. A polícia, simplesmente, diz que não tem efectivo. Mas, também, várias vezes assistimos à presença de polícias em lugares privados. Falo, concretamente, de bombas, de combustíveis. Onde eles têm oportunidade, porque geram dinheiro, de contratar uma empresa de segurança. Entretanto, a polícia está lá.  E nas escolas, onde nós não podemos cobrar o valor de guarda?”, questionou, mas saiu sem resposta.

Ciente do problema, a ministra da Educação diz que é preciso rever os regulamentos escolares.

“Estamos a rever, aquilo são os regulamentos internos, acima de tudo, para nos integrarmos.  Temos que integrar uma norma. Vamos ter que expulsar alguns alunos, isso é verdade. Mas a questão de expulsar-se, do ponto de vista do comportamento, o que nós queremos introduzir é uma medida que os pais possam acompanhar. Porque nenhum pai vai querer que os filhos sejam expulsos. O que queremos é chamar a atenção dos pais  em relação ao comportamento das crianças a nível da escola. As crianças, quando chegam, algumas são mais violentas que as outras”, declarou Samaria Tovela, Ministra da Educação e Cultura

Para controlar os comportamentos, todos são chamados a agir.

“Nós vamos trabalhar a nível de todos os grupos, principalmente, que actuam, dos nossos intervenientes a nível da escola, pelos pais encarar a educação aos nossos professores.  E mesmo em relação aos nossos alunos. É algo que, efectivamente, nós não queremos. Não a violência na escola é o nosso lema”, declarou. 

Refira-se que em muitos casos, são os guardas das escolas, alguns idosos, que tentam acudir às lutas, mas sem sucesso por se tratar de adolescentes embriagados ou drogados, na maioria dos meses.

Fonte: O País

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