O som dos embates e gritos das vítimas dos acidentes de viação mortais levaram a mais uma reação do Governo, desta vez através do ministro do interior, que reuniu os comandos da Polícia de trânsito para exigir respostas.
“O que é que significa a morte de 87 pessoas em acidente de viação? Quantos maridos ficaram viúvos? Quantos filhos, quantas crianças ficaram órfãos? Quantas crianças, quantos filhos ficaram sem a possibilidade de ir para a escola porque aqueles que cuidavam deles deixaram de existir, num acidente de viação?”, questionou Paulo Chachine, ministro do interior, apela aos agentes a reflexão em torno da sua actuação na via pública, bem como o impacto das suas acções ou decisões.
É que Paulo Chachine entende que há má actuação dos fiscalizadores, apatia e corrupção, ambiente propício para acidentes.
O governante recordou que, sempre que há registo de um acidente, a principal causa apresentada é o excesso de velocidade. Apesar de reconhecer que haja outros factores, o factor humano é que mais se evidencia.
“Condições da via, todas essas outras coisas são importantes, mas há um aspecto muito importante que é o comportamento humano, quando são irresponsáveis dos outros e a nossa apatia no cumprimento daquilo que devemos cumprir, a nossa indiferença em fazer cumprirmos as normas. É a nossa nossa obrigação impedir que os veículos circulem fora do tempo, é nossa obrigação e é nossa responsabilidade”, disse.
Um vídeo amador, embora antigo, onde aparecem agentes da PT apanhando dinheiro na via lançado por automobilistas em marcha, reflecte o que Chachine diz que deve ser combatido na corporação, a corrupção.
“Cartas de condução que são alugadas, cartas de condução que são emprestadas, fiquei a saber que até ajudantes de chapa, às vezes, conduzem sem carta de condução, mas tem uma carta emprestada, alugada, e nós fiscalizamos, passa o indivíduo, a carta tem uma foto, e olhamos para a carta, e olhamos para a cara e vemos que não é aquela pessoa, mas por outros motivos e por outros interesses deixamos seguir e aquele indivíduo que não tem carta de condução, não está habilitado a conduzir aquele veículo, vai, tem um acidente de viação lá à frente, morre gente, tem um acidente, morre ele próprio. Somos ou não parte desse acidente de viação?”, questionou.
O ministro constatou se tratar de interesses particulares, que prejudicam a maioria.
“Porque não é por favor, nem é por amizade que nós deixamos circular carros fora do horário normal. Não é por favor, nem é apenas por amizade que nós olhamos para a carta de condução e vemos que, bom, este só tem ligeiros, amador, não sei se existe isso, só tem ligeiros, mas está a guiar o semicoletivo de passageiros, e deixamos andar. Será por favor, será por amizade? Há alguma coisa por detrás disso”, concluiu.
O governante comentou ainda sobre a decisao de suspender os agentes fiscalizadores que teriam deixado passar um condutor ilegal, dizendo que suspender agentes infractores não vai inverter o gráfico de sinistralidade nas estradas.
“Suspendemos os de Incoluane, suspendemos os de Muamba, suspendemos os de Nicoadala. Vamos suspender até quando? Se é para suspendermos todos os dias, é melhor suspender a todos e refazermos a polícia de trânsito. É isso que temos que fazer? É isso que temos que fazer? Não é, porque há bons, não é, porque há bons, há bons e os bons querem trabalhar, os bons querem fazer cumprir normas, os bons querem cuidar do cidadão, então esses bons é preciso que puxem o outro, que eduquem o outro”.
O ministro do interior terminou a parada apelando ao bom senso aos agentes, mas não apresentou nenhuma medida concreta para acabar com os acidentes que só em agosto mataram 86 pessoas.
Fonte: O País