Ler A BOLA era uma obrigação. Ler A BOLA era obrigatório. Foi obrigatório antes do 25 de abril, durante a ditadura e a Censura, foi obrigatório na revolução e foi obrigatório depois da revolução. Fui sempre leitor, serei leitor até ao fim da minha vida
Fundado em 29 de janeiro de 1945, assinala A BOLA, que é uma instituição nacional, 80 anos de vida.
80 Anos começados pela iniciativa de Cândido de Oliveira, Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo, logo a seguir à experiência da Guerra e numa viragem no desporto em Portugal, sobretudo no futebol, e, portanto, também no jornalismo desportivo. O subtítulo era O Jornal de todos os desportos e acabou por ser o Jornal de todos os desportos, mas com particular ênfase no futebol.
Eu não posso dizer que desde o meu nascimento acompanhei A BOLA, porque não é verdade, mas é quase verdade, pois a partir dos 5 anos, 6 anos de idade, acompanhei A BOLA, que tinha primeiro muita informação desportiva e depois os grandes feitos dos vários clubes.
Havia sempre aquela teoria de que A BOLA gostava mais do Benfica ou o Benfica gostava mais de A BOLA, mas eu sou insuspeito, porque sendo do Sporting Clube de Braga, simpatizei sempre com A BOLA, mesmo quando tinha aquele talento de, anos a fio, o seu Diretor ser do Belenenses, dizendo-se não ser benfiquista.
Mas o facto é que foi fundamental para o acompanhamento das nossas Seleções Nacionais, dos nossos atletas e na promoção de outras modalidades, que foram vendo ganhar a sua importância ao longo do tempo.
Nasceu como bissemanário, depois, porque era de facto um grande sucesso, passou a trissemanário, depois quadrissemanário, e há 30 anos deu um passo arriscado que é o de passar a diário. Mas deu outro passo, que foi igualmente importante: entrou no online, quando virou o século, e mais tarde na televisão.
A BOLA marcou, portanto, sucessivas gerações de desportistas, de atletas, de dirigentes e, sobretudo, de adeptos. Mas também marcou o jornalismo pela qualidade dos seus jornalistas e fotógrafos, e há grandes fotografias de todos os desportos por todos os cantos de Portugal e lá fora.
E há, sobretudo, um serviço inestimável que A BOLA prestou a Portugal na nossa Diáspora e nas nossas Comunidades.
Ler A BOLA era uma ligação a Portugal. Ler A BOLA era obrigatório. Foi obrigatório antes do 25 de Abril, durante a ditadura e a Censura, foi obrigatório na revolução e foi obrigatório depois da revolução.
Onde se falava português lia-se A BOLA. E onde não se falava português, lia-se A BOLA da mesma maneira. E quando se diz falar português, é falar nas nossas Comunidades e falar nos Países de Língua Oficial Portuguesa. Porque lia-se e lê-se lá A BOLA.
No ano passado A BOLA fez uma revolução, deixou o número 23 da Travessa da Queimada, deixou o Bairro Alto, que era no fundo uma vida inteira, mas foi uma viragem para o futuro.
E aquilo que nós esperamos, desejamos e ansiamos hoje, formulamos como grande voto nestes 80 anos, é que esse futuro seja muito melhor do que o passado. Igualmente qualificado, ótimo nos jornalistas, nas fotografias, na cobertura dos acontecimentos desportivos e na formação cívica.
A BOLA foi sempre – e isso foi muito importante em ditadura – uma instituição a lutar pela Liberdade e pela Democracia. Que seja assim no futuro, que continue assim no futuro, eu fui sempre leitor, serei sempre leitor até ao fim da minha vida.
Portanto mais 80 anos, pelo menos, de vida de A BOLA. Na televisão, nas redes sociais e noutras plataformas que se venha a inventar ou que deem continuidade, com imaginação, ao seu passado. Assim seja, porque quem ganha é Portugal.
Fonte: A Bola