Questões-Chave:
Em meio a um cenário económico desafiante e a crescentes exigências por inclusão financeira, as microfinanças emergem como um vector estratégico na transformação da economia moçambicana. Com mais de 73 microbancos actualmente licenciados, o País assiste a uma consolidação silenciosa mas estratégica da sua rede financeira de proximidade – uma rede que aposta no que os grandes bancos muitas vezes negligenciam: os segmentos excluídos, os territórios periféricos e os actores económicos informais.
O recente lançamento do Micro Banco Sólido, em Maputo, representa mais do que a abertura de uma nova agência: é o símbolo de uma viragem no modo como o sistema financeiro se reposiciona como instrumento de inclusão, equidade e desenvolvimento.
“O Banco Sólido veio para estar ao lado dos pequenos e médios empreendedores. A nossa missão é ajudar a transformar o informal em formal”, afirma Jerson Tembe, director executivo da instituição.
A Inclusão Como Motor de Transformação
Diferentemente dos bancos comerciais tradicionais, os microbancos operam com uma lógica de proximidade territorial e cultural, permitindo maior acesso por parte de cidadãos e empreendedores frequentemente excluídos. Esse modelo tem efeitos multiplicadores relevantes:
A Ministra das Finanças, Carla Louveira, destaca que estas instituições estão “alinhadas com as políticas do Governo de transformação económica e banca inclusiva”, desafiando-as a expandir-se para além dos centros urbanos e responder de forma concreta às necessidades do país profundo.
Obstáculos Sistémicos e Caminhos de Superação
Apesar do crescimento, o sector das microfinanças enfrenta desafios estruturais importantes:
Nesse contexto, as parcerias público-privadas, os mecanismos de co-garantia, as plataformas digitais e os programas de capacitação comunitária surgem como soluções promissoras para escalar impacto.
Uma Nova Arquitectura Financeira?
O surgimento de instituições como o Banco Sólido, MyBucks, Socremo e outras, articuladas com linhas de crédito acessíveis, apoio técnico e produtos orientados às PME’s e ao sector informal, pode estar a redefinir a arquitectura do sistema financeiro nacional. Essa transformação não é apenas económica: é também política, social e institucional.
“Este tipo de banco está alinhado com o compromisso da cidade de Maputo em tornar-se mais inclusiva, justa e próspera. A inclusão financeira é pilar de desenvolvimento local sustentável”, defende Rasaque Manhique, Presidente do Município de Maputo.
Das Margens para o Centro
A experiência moçambicana mostra que a inclusão financeira não é uma externalidade do sistema, mas uma condição para o seu sucesso e sustentabilidade. Os microbancos não são apenas mecanismos de crédito – são instrumentos de desenvolvimento económico local, de justiça social e de mobilização de recursos internos.
Para que esse movimento se consolide, será necessário:
✅ Fortalecer o quadro regulador das microfinanças;
✅ Integrar os microbancos nas estratégias nacionais de desenvolvimento e bancarização;
✅ Expandir a literacia financeira de forma massiva;
✅ Apostar na transformação digital como acelerador de inclusão.
<
p style=”margin-top: 0in; text-align: justify; background-image: initial; background-position: initial; background-size: initial; background-repeat: initial; background-attachment: initial;”>Moçambique tem nas microfinanças uma oportunidade estratégica para tornar o sistema financeiro um verdadeiro instrumento de transformação nacional. Resta saber se terá a coragem política, institucional e técnica para escalar esta visão.
Fonte: O Económico