A corrida global pelos minerais críticos tornou-se uma peça-chave da política internacional, à medida que as grandes potências tentam assegurar o controlo sobre recursos estratégicos essenciais para as indústrias de tecnologia, defesa e transição energética. O recente acordo entre os Estados Unidos e a Ucrânia, assinado pelo presidente Volodymyr Zelenskiy e o ex-presidente Donald Trump, ilustra como esses minerais passaram a ser um instrumento de negociação geopolítica.
Acordo EUA-Ucrânia: Segurança em Troca de Recursos?
Inicialmente concebido como um acordo focado nas terras raras, o pacto entre os dois países evoluiu para abranger um espectro mais amplo de minerais, hidrocarbonetos, petróleo e gás. No entanto, há uma incerteza crucial: a Ucrânia não possui reservas substanciais de terras raras, segundo levantamentos do Serviço Geológico dos EUA.
O maior activo mineral do País reside noutros metais estratégicos, como titânio e lítio, cuja exploração, contudo, depende de infra-estruturas e estabilidade, elementos escassos após três anos de guerra contra a Rússia. Assim, a promessa de transformar a Ucrânia num grande fornecedor de minerais para os Estados Unidos enfrenta desafios logísticos e operacionais significativos.
China e o Domínio da Cadeia de Valor dos Minerais
O factor que impulsiona acordos como o firmado entre os EUA e a Ucrânia é a supremacia chinesa no sector. Pequim não detém necessariamente as maiores reservas de minerais críticos, mas domina as cadeias de processamento e refinação, o que a coloca numa posição estratégica para ditar as regras do jogo.
Recentemente, a China começou a limitar a exportação de tecnologia de processamento desses minerais, dificultando ainda mais os esforços ocidentais para reduzir a sua dependência. Isso explica a busca agressiva dos Estados Unidos e da Europa por parcerias alternativas que possam garantir o fornecimento de insumos fundamentais para sectores como defesa, electrificação dos transportes e semicondutores.
A Revolução dos Metais na Indústria
O uso de metais na economia moderna evoluiu drasticamente. No passado, um telefone fixo precisava apenas de fio de cobre. Hoje, um telemóvel contém uma combinação de alumínio, cobalto, ouro, lítio, estanho, tungsténio e terras raras.
A dependência de metais sofisticados é ainda mais crítica em sectores como o militar. Um caça F-35 necessita de uma vasta gama de minerais estratégicos para os seus sistemas electrónicos e estruturas leves. O mesmo ocorre com as baterias de iões de lítio, que se tornaram um componente essencial para a transição global para veículos eléctricos e armazenamento de energia.
Embora Donald Trump tenha demonstrado cepticismo sobre os veículos eléctricos, reconhece a importância dos metais estratégicos para a segurança nacional. Tanto que, ainda durante o seu primeiro mandato, declarou os minerais críticos como uma emergência nacional.
A Nova Diplomacia dos Minerais: Quem Controla o Fornecimento?
A crescente disputa pelos minerais críticos transformou esses recursos numa moeda de troca na geopolítica global. O acordo com a Ucrânia não é um caso isolado:
Com o declínio da geopolítica do petróleo, os metais emergem como o novo vector estratégico do século XXI, definindo alianças e disputas comerciais num cenário global cada vez mais fragmentado.
O Futuro da Guerra dos Minerais
A “corrida ao ouro” dos minerais críticos está apenas no início. À medida que os países procuram assegurar fornecimentos seguros para os seus sectores tecnológicos e militares, novos acordos estratégicos e tensões geopolíticas devem emergir.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>A Ucrânia, ao oferecer os seus recursos minerais em troca de apoio militar, abre um precedente para outras nações ricas em minerais críticos, mas vulneráveis politicamente. Neste novo jogo de poder, o futuro da segurança global será tão forte quanto os metais que a sustentam.
Fonte: O Económico