Moçambicanos sofrem com o regime antimigratório na África do Sul

0
4
Cidadãos nacionais denunciam bloqueios no acesso a serviços básicos de saúde e educação na África do Sul, uma acção supostamente liderada por um grupo anti-migração denominado “Dudula”, que afirma que os imigrantes ilegais estão a sobrecarregar os investimentos feitos nesses sectores.

Moçambicanos residentes na África do Sul são parte de vários imigrantes que há cerca de três meses vêm sofrendo bloqueios no acesso aos serviços básicos neste país vizinho.

A saúde é um dos serviços aos quais os moçambicanos estão impedidos de aceder, numa acção supostamente liderada por um grupo antimigração denominado “Dudula”, que afirma que os imigrantes ilegais estão a sobrecarregar os investimentos feitos nesses sectores.

Aldino Muianga, médico que reside na África do Sul, revela que já buscou os serviços de saúde, mas não teve sucesso. “No outro dia, fui à clínica. Eu também estou doente. Os custos nos hospitais privados são exorbitantes. Voltamos ao ‘Dudula’, não sei mais como se chama esse movimento aí, assim, que impede, que bloqueia o acesso, portanto, às clínicas aí”, contou Aldino Muianga.

Outro moçambicano residente na África do Sul diz que os estrangeiros não têm direito a ir ao hospital. “Com ou sem passaporte, mandam-nos embora. Não querem mais pessoas estrangeiras aqui neste país, nos hospitais. Não sei como o nosso governo nos poderá ajudar, disse José Vasco, residente em Pretória.

A falta de assistência à saúde não é o único desafio. O acesso à educação é também limitado, segundo contou Abel Amós, também residente em Pretória.

“O governo sul-africano só permite que as crianças estudem até à 10ª classe. Para continuar os seus estudos, exige-se a apresentação do BI, vulgarmente conhecido por ID”, revela Abel Amós.

Reninha Azarias, também residente na cidade sul-africana, amplia o grito de socorro às autoridades moçambicanas, temendo o pior nos próximos dias se nada for feito.

“Mulheres grávidas, algumas são deixadas de parto no corredor, nos hospitais. Isto não é pouca coisa, estamos a pedir socorro, um socorro breve mesmo”, clama Reninha Azarias.

A moçambicana residente nas terras do rand revela que não tem sido fácil para eles. “A minha zona, onde estou a viver, é uma zona muito agressiva. Se esse grupo chegar lá, eu não acho que há de sobreviver muita gente”, disse Reninha Azarias, assustada.

Governo está ciente da existência de “Dudula”

Devido a vários relatos associados à segregação e deportação em massa de estrangeiros na África do sul, o Governo de Moçambique deslocou-se, há dias, àquele país vizinho para ouvir de perto as reclamações.

Maria de Fátima Manso, secretária de Estado para as Comunidades no Exterior, disse ser uma situação que poderá, eventualmente, descambar em xenofobia. “Conforme ouvimos aqui, os relatos dos nossos concidadãos, há sinais mais do que evidentes de que este movimento, o vulgo do ‘Dudula’, poderá trazer consequências drásticas para os estrangeiros, neste caso particular, para os nossos concidadãos moçambicanos”, revela.

A secretária de Estado para as Comunidades no Exterior não tem dúvidas de que os moçambicanos “já começaram a sofrer com esta situação”, por isso disse ser urgente uma tomada de posição.

Aliás, Maria de Fátima Manso diz que a primeira coisa a fazer-se é manter um encontro com as autoridades sul-africanas para procurar saber do seu posicionamento e das possíveis soluções para esta situação.

De Janeiro a esta parte, mais de cinco mil pessoas foram deportadas da vizinha África do Sul, situação que preocupa o Governo de Moçambique, que também vai levar o caso às autoridades da terra do Rand.

Regime anti-migratório não tem motivos de ser

O território sul-africano alberga cerca de 64 milhões de pessoas, das quais 6,5% são imigrantes ilegais. O especialista em estudos e desenvolvimento, Fredson Guilengue, residente naquele país, critica o movimento antimigratório.

“Não há aqui nenhum problema numérico, e isso também se aplica na Europa, em relação aos estrangeiros. Esse é um aspecto da visibilidade, mas também tem o aspecto do desemprego, principalmente, o desemprego jovem”, sugere Guilengue.

O facto é que, na África do Sul, existe cerca de 62% de desemprego juvenil – uma situação bastante assustadora para Fredson Guilengue, que considera que “o desemprego jovem é um factor fundamental e causador da instabilidade social, porque os jovens, não tendo o que fazer, facilmente caem nessas narrativas, facilmente construídas”.

Por outro lado, Guilengue diz que essa situação do desemprego não é problema dos estrangeiros.

A lei sul-africana confere o direito à saúde e educação a todos os residentes, o que anula a narrativa de que os imigrantes sufocam os sistemas, defende Fredson Guilengue.

“O que está a acontecer tem a ver com a decadência do sistema de saúde, principalmente do sistema público, que faz com que a procura cresça, no entanto a oferta é cada vez menor, e essa decadência também não tem nada a ver com a humildade, tem a ver com questões ligadas à corrupção, e tem a ver também com questões ligadas ao investimento na saúde, na contratação dos médicos, no equipamento, etc., que tem vindo a decrescer ao longo dos anos”, conta Fredson Guilengue, especialista em Estudos e Desenvolvimento.

O director do Instituto Nacional para os Moçambicanos no Exterior confirmou, sem gravar entrevista, ter mantido um encontro com a parte sul-africana e está marcado para Setembro mais um encontro para busca de soluções.

Fonte: O País

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!