Questões-Chave:
Apesar dos esforços de reforma e dos investimentos em sectores estratégicos, Moçambique continua fortemente dependente da exportação de matérias-primas, segundo o relatório The State of Commodity Dependence 2025, publicado pela UNCTAD. Com mais de 80% das receitas de exportação concentradas em commodities, o país permanece estruturalmente vulnerável às oscilações do mercado global.
Moçambique integra o grupo dos países mais dependentes de commodities do mundo, de acordo com o levantamento estatístico mais recente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), que cobre o período de 2021 a 2023.
A estrutura exportadora moçambicana assenta fortemente em produtos primários:
Esta pouca diversificação económica compromete a capacidade de Moçambique responder a choques externos, como flutuações nos preços do carvão e do gás, bem como perturbações logísticas ou climáticas que afectam a produção agrícola. Segundo a UNCTAD, esta dependência limita o espaço fiscal, dificulta a industrialização e torna o crescimento económico menos resiliente.
O relatório aponta ainda que, apesar do crescimento do comércio global em 25,6% na última década, a contribuição das commodities aumentou apenas 15,5%. Para países como Moçambique, que ainda exportam maioritariamente produtos sem valor acrescentado, o risco é de ficar à margem da nova economia global, que privilegia inovação, transformação industrial e integração em cadeias de valor mais complexas.
O estudo observa que o perfil estatístico de Moçambique se manteve praticamente inalterado entre os períodos 2012–2014 e 2021–2023. Apesar da entrada em cena do gás natural da Bacia do Rovuma, o impacto no perfil de dependência ainda não se traduz em transformação estrutural significativa.
A UNCTAD recomenda que Moçambique adopte políticas activas de diversificação, promovendo:
O exemplo de países como Indonésia, que conseguiu reduzir a sua dependência abaixo do limiar dos 60%, demonstra que é possível reverter a lógica da dependência através de investimento público estratégico, parcerias comerciais inteligentes e políticas industriais bem orientadas.
Fonte: O Económico