Moçambique Entre Crescimento Volátil e Riscos Persistentes: A Urgência da Estabilidade Macroeconómica

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 – Relatório do BAD traça cenário de recuperação frágil e aponta desafios como dívida, comércio externo e instabilidade climática

Questões-Chave

O crescimento económico de Moçambique registou uma desaceleração acentuada em 2024, com o PIB real a cair para 1,8%, abaixo dos 5,4% do ano anterior. O Country Focus Report 2025 do Banco Africano de Desenvolvimento alerta para a volatilidade do desempenho macroeconómico e identifica riscos estruturais que continuam a comprometer a estabilidade e a sustentabilidade do desenvolvimento.

O relatório destaca que a desaceleração da economia em 2024 se deveu sobretudo ao recuo na produção agrícola e no sector extractivo, reflexo de choques climáticos, instabilidade em Cabo Delgado e oscilações nos preços internacionais das matérias-primas. As projecções para 2025 e 2026 são de uma recuperação moderada, com o crescimento a atingir 2,7% e 3,5%, respectivamente, impulsionado pela retoma das actividades ligadas ao gás natural liquefeito (GNL).

Em termos de política monetária, o ambiente de preços mais benigno — com inflação a descer para 3,2% — permitiu ao Banco de Moçambique adoptar uma postura mais expansionista, reduzindo a taxa de juro MIMO de 17,2% para 12,7%. Ainda assim, o acesso ao crédito permanece limitado, com taxas de juro bancárias superiores a 19% e crédito ao sector privado abaixo da média regional.

Do ponto de vista fiscal, o défice orçamental agravou-se para 5% do PIB em 2024, apesar de progressos na arrecadação de receitas fiscais. A implementação da Tabela Salarial Única (TSU) e os encargos com o serviço da dívida absorveram quase 90% da receita fiscal, reduzindo a margem de manobra para investimento público. A dívida pública mantém-se em níveis preocupantes, com um rácio de 96,2% do PIB em 2024, colocando Moçambique em risco elevado de sobre-endividamento, segundo o FMI e o Banco Mundial.

No plano externo, o défice da conta corrente aumentou para 12,2% do PIB, impulsionado por importações ligadas a megaprojectos energéticos e pela fraca diversificação das exportações fora do sector extractivo. As reservas internacionais continuam sob pressão, com cobertura limitada a três meses de importações. O relatório sublinha ainda o impacto adverso das tarifas recíprocas impostas pelos EUA, que fragilizam as exportações moçambicanas no âmbito do AGOA.

O contexto social permanece frágil: a esperança de vida subiu para 63,8 anos, mas 74,5% da população vive ainda abaixo da linha da pobreza, com agravamento da desigualdade (índice de Gini de 54 em 2024). Os conflitos no norte e as tensões pós-eleitorais contribuem para um ambiente de incerteza que prejudica o investimento e atrasa reformas.

As recomendações incluem o reforço da mobilização de receitas internas, a criação de reservas cambiais robustas, o investimento em infra-estruturas resilientes ao clima e a aposta em medidas de consolidação fiscal estruturada. A diversificação da economia e a implementação efectiva do AfCFTA são apontadas como caminhos para reduzir vulnerabilidades externas e estimular o crescimento sustentável.

Fonte: O Económico

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