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As projecções populacionais apresentadas pelo UNFPA e pelo Instituto Nacional de Estatística alertam para um crescimento acelerado da população moçambicana nas próximas três décadas, o que poderá representar tanto uma oportunidade quanto um risco. A concretização do dividendo demográfico dependerá da capacidade do país em assegurar direitos reprodutivos, reduzir casamentos prematuros e reforçar o investimento em educação, saúde e emprego jovem.
Segundo o relatório global sobre a Situação da População Mundial, apresentado recentemente em Maputo pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), Moçambique poderá atingir entre 60 e 69 milhões de habitantes até meados do século, praticamente duplicando a sua população actual.
Este crescimento exponencial levanta desafios sérios para o sistema nacional de educação, saúde, emprego e habitação. Como frisou a representante do UNFPA, Nélida Rodrigues, o País enfrenta uma taxa elevada de fecundidade precoce: “Cerca de metade das raparigas dá à luz antes dos 18 anos e 48% das mulheres casam-se nessa mesma faixa etária”. A baixa cobertura contraceptiva — apenas 25% das mulheres entre os 15 e os 49 anos usam métodos contraceptivos modernos — agrava a situação, com mais de 27% das mulheres a manifestarem necessidades não satisfeitas em matéria de planeamento familiar.
Estes indicadores comprometem não só os direitos das mulheres e raparigas, mas também o potencial económico do País. Em média, um em cada filhos nascidos em cada família é indesejado ou não planeado, fenómeno que contribui para ciclos intergeracionais de pobreza, desigualdade e exclusão social.
Nesse contexto, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento (INDE 2025–2044), recentemente aprovada, assume importância estratégica. Segundo Eliza Magaua, Presidente do INE, esta transição demográfica acelerada é crucial para alcançar o chamado dividendo demográfico — o crescimento económico impulsionado pela redução da dependência infantil e o aumento da população activa. No entanto, essa transição “deve estar enraizada nos direitos e nas escolhas”, afirmou.
A capacidade de transformar este desafio em oportunidade está, assim, dependente da implementação de políticas públicas integradas, baseadas em evidência, que promovam educação sexual abrangente, acesso a serviços de saúde reprodutiva, combate ao casamento infantil e empoderamento económico feminino.
Moçambique enfrenta um momento decisivo. O crescimento populacional acelerado poderá tornar-se um poderoso motor de desenvolvimento — ou um agravante estrutural das fragilidades sociais e económicas — dependendo das escolhas políticas feitas hoje. Garantir que cada mulher, cada jovem e cada família tenha acesso a informação, autonomia e oportunidades será o passo essencial para construir um futuro sustentável.
Fonte: O Económico