A Agência Internacional de Energia (AIE) considera que Moçambique tem condições para se afirmar como um dos principais actores da transição energética africana, desde que acelere as reformas estruturais e consolide mecanismos de financiamento verde capazes de transformar o potencial energético em crescimento económico sustentável.
O mais recente relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) sobre Moçambique sublinha o papel crescente do país na transição energética africana, destacando o seu vasto potencial em recursos renováveis e minerais críticos, ao mesmo tempo que adverte para os desafios de financiamento, resiliência climática e reformas institucionais necessários para sustentar um crescimento verde inclusivo.
Energia Limpa No Centro Da Estratégia Nacional
A AIE reconhece que Moçambique deu passos significativos ao integrar a hidrometeorologia e a resiliência climática nas políticas públicas, consolidando a energia como pilar da sua estratégia de desenvolvimento sustentável.
O país beneficia de recursos abundantes em energia hidroeléctrica, solar e eólica, mas ainda enfrenta uma cobertura energética desigual, com milhões de moçambicanos sem acesso regular à electricidade.
O relatório destaca a importância de iniciativas como o programa “Um Distrito, Uma Estação Meteorológica”, lançado pelo Governo para reforçar a rede de observação climática e permitir uma melhor planificação do investimento energético e agrícola.
Modernização E Integração Regional Do Sistema Energético
A aposta na modernização das redes de transmissão e na integração regional é vista pela AIE como um passo determinante.
A Electricidade de Moçambique (EDM) e a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) têm desempenhado papéis centrais na expansão das infra-estruturas de transporte de energia, enquanto projectos como o Mphanda Nkuwa e o Coral Norte reforçam o posicionamento do país como fornecedor estratégico de energia limpa para a África Austral.
O relatório recomenda, contudo, a diversificação das fontes de geração, apostando em solar e eólica para reduzir a dependência da hidroenergia e mitigar o impacto das secas que afectam a produção eléctrica.
Financiamento Verde E Reforço Institucional
Apesar dos progressos, a AIE identifica limitações severas de financiamento climático e fragilidades institucionais que travam a expansão do sector.
O Orçamento do Estado não é suficiente para suportar o investimento necessário à transição energética, sendo essencial a mobilização de parcerias público-privadas e o acesso a instrumentos de financiamento internacional, como o Systematic Observations Financing Facility (SOFF), já operacional em Moçambique.
De acordo com o relatório, “cada dólar investido em aviso prévio e resiliência energética representa uma poupança de sete dólares em reconstrução pós-desastre”, o que reforça o argumento económico a favor de um planeamento energético resiliente.
Digitalização E Inovação Tecnológica Como Motores Da Mudança
A modernização do sistema energético moçambicano passa também pela digitalização progressiva dos serviços e pela incorporação de inteligência artificial na gestão de redes e monitorização climática.
O país já iniciou a interligação de plataformas nacionais e regionais, criando mecanismos automáticos de recolha e partilha de dados sobre produção, consumo e previsão meteorológica.
A AIE destaca que a digitalização, associada à formação técnica e à inovação local, poderá aumentar a eficiência operacional e atrair investidores internacionais, especialmente em projectos de energia solar descentralizada e mini-redes rurais.
Moçambique Entre O Potencial E A Responsabilidade
Para a AIE, Moçambique encontra-se num ponto de inflexão histórico: possui recursos naturais e humanos para liderar a transição energética regional, mas precisa de reformas estruturais e de um modelo de financiamento previsível e inclusivo.
O desafio não é apenas produzir mais energia, mas produzi-la de forma limpa, acessível e sustentável, num contexto de mudanças climáticas cada vez mais severas.
“O futuro energético de Moçambique será definido pela qualidade das suas instituições e pela sua capacidade de transformar vulnerabilidade em resiliência”, conclui o relatório da AIE.
Fonte: O Económico