A South32 confirma que continua a negociar com o Governo moçambicano, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa e a Eskom, mas alerta que, sem energia suficiente e a custos competitivos, a maior indústria do País poderá entrar em regime de manutenção.
A South32, multinacional australiana que controla a Mozal Aluminium, reafirmou esta terça-feira que mantém o plano de suspender as operações da fundição em Março de 2026, caso não se garanta o fornecimento de energia eléctrica suficiente e a preços competitivos. Apesar das negociações em curso com o Governo moçambicano, a HCB e a Eskom, a empresa admite que o progresso alcançado “não gera confiança” quanto à sustentabilidade do actual modelo de fornecimento.
Negociações em Curso, mas Sem Acordo
Numa nota enviada aos mercados, a South32 afirma que, “apesar dos esforços desenvolvidos”, as conversações com o Governo e os parceiros energéticos “não progrediram de forma a gerar confiança de que a Mozal garantirá o fornecimento de electricidade suficiente e acessível para além de Março de 2026”.
A companhia sublinha que, sem um acordo viável, a fundição será colocada em regime de manutenção, preservando as infra-estruturas e parte do capital humano, mas interrompendo a produção.
A Mozal, localizada em Beluluane, arredores de Maputo, é a maior fundição de alumínio de África, empregando cerca de 5.000 trabalhadores directos e indirectos. A sua produção vendável aumentou 3% no terceiro trimestre de 2025, para 93 mil toneladas, operando “próxima da capacidade técnica máxima”.
Dependência Energética e Impasse Tarifário
A Mozal é um dos maiores consumidores de energia do País, responsável por quase metade da electricidade produzida em Moçambique, fornecida pela HCB através da Eskom, empresa sul-africana que compra 66% da produção nacional de Cahora Bassa.
Em Agosto, o Presidente Daniel Chapo advertiu que as tarifas energéticas propostas pela Mozal “poderiam levar ao colapso da HCB”, sublinhando que “a sustentabilidade do sistema eléctrico nacional não pode ser comprometida”.
O porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, reiterou que o Executivo “acarinha a Mozal”, mas que o Governo “não permitirá que a renegociação coloque em risco a estabilidade do sistema energético e as finanças públicas”.
Impacto Económico e Social da Crise
A incerteza em torno do futuro da fundição já provocou efeitos económicos e sociais significativos. Em Agosto, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) revelou que a Mozal rescindiu contratos com cerca de 20 empresas fornecedoras, afectando pelo menos mil trabalhadores.
Além disso, o Governo reconheceu que a contribuição fiscal da Mozal é extremamente baixa, e indicou estar a avaliar uma revisão das suas obrigações tributárias, numa tentativa de tornar a relação mais equilibrada e sustentável.
Com um peso estimado de 3% no PIB e um papel estratégico na balança comercial e exportações nacionais, a continuidade da Mozal é considerada vital para a estabilidade macroeconómica do País.
Reconfiguração Energética e Desafios da Transição
O impasse ocorre num contexto em que Moçambique prepara uma reconfiguração do seu modelo energético. O Governo já anunciou a intenção de repatriar, a partir de 2030, a energia actualmente exportada para a África do Sul, para reforçar o consumo doméstico e assegurar a industrialização nacional, conforme a Estratégia de Transição Energética 2025–2050.
A HCB, que fornece energia à Eskom desde 1979, tem sido apontada como pilar central da soberania energética e peça-chave para o reposicionamento industrial de Moçambique, incluindo sectores como o alumínio, cimento, fundição e metalurgia pesada.
Perspectiva e Riscos para 2026
A South32 mantém a projecção de produção anual de 240 mil toneladas de alumínio até Março de 2026, altura em que expira o contrato de fornecimento de energia. Caso não haja acordo, a empresa colocará a unidade em regime de manutenção, num cenário que poderá afectar o PIB, as exportações e o emprego industrial.
<
p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Enquanto isso, o Governo insiste numa solução de equilíbrio entre sustentabilidade tarifária e competitividade industrial, tentando evitar que a maior indústria nacional entre em colapso energético.
Fonte: O Económico