Por: Sara Seda
Nos transportes semicolectivos, popularmente conhecidos como “chapas”, a música tornou-se uma ferramenta de atração de passageiros. Em várias rotas da cidade, é comum entrar numa chapa e ser recebido por batidas ensurdecedora, o volume é tão alto que chega a fazer o banco vibrar, sente-se fisicamente no corpo, e torna-se impossível manter uma conversa, atender uma chamada ou sequer comunicar com o próprio cobrador.
Muitos motoristas chegam a desligar o som enquanto o carro ainda está no terminal, apenas para ligá-lo no volume máximo assim que arrancam, surpreendendo os passageiros. O mais preocupante é a falta de sensibilidade por parte de alguns motoristas e cobradores, que ignoram os pedidos de passageiros para reduzir o volume.
Não se trata de negar a importância da música, ela tem valor emocional, cultural e até comercial, no marketing por exemplo, ela é usada para criar ambientes agradáveis e estimular emoções positivas. Mas para isso, é preciso equilíbrio, pois, quando a música ultrapassa os limites do razoável, transforma-se em poluição sonora, um problema de saúde pública muitas vezes ignorado.
Apesar de a maioria de estudantes gostar deste tipo de animação, preferindo até chegar tarde à escola porque ainda estão à espera dos populares “chapas’’ na praça pela boa música e animação, é preciso reconhecer que os utilizadores destes transportes são diversos. Há estudantes, sim, mas também idosos, crianças de colo e pessoas com problemas de saúde, que não deveriam ser expostas a ruído excessivo. A ciência já comprovou que a exposição contínua a sons altos pode causar perda auditiva, distúrbios de sono, ansiedade e irritabilidade. Embora alguns passageiros já conheçam os “chapas barulhentos” e evitem usá-los, nem todos têm esse privilégio, em horários de pico ou em zonas com poucas opções, quem está com pressa acaba exposto sem opção, ouvindo alto som e muitas vezes mal equalizado.
Cabe perguntar: será mesmo necessário ouvir amapiano ou outros géneros musicais em alto volume logo nas primeiras horas da manhã, quando muitos estão a caminho da escola ou do trabalho, e o cérebro precisa de concentração e estímulo produtivo? E no regresso para casa, cansados após um dia de trabalho, não seria melhor uma música com som no volume certo que transmita um ambiente mais calmo/sereno para relaxar?
É urgente repensar o uso da música nos transportes públicos. A música pode ser um elemento agradável, se usada com bom senso, música boa não é sinónimo de música alta.