Resumo
A África subsaariana enfrentará um aumento significativo das necessidades de financiamento, passando de 67,2 mil milhões de dólares em 2024 para cerca de 86,2 mil milhões em 2029, de acordo com estimativas da BMI e do FMI. Este aumento ocorre num contexto de redução da ajuda externa, custos elevados de endividamento e maior pressão sobre os mercados internos. Apesar de uma melhoria gradual dos défices orçamentais na região, que deverão passar de 3,7% do PIB para cerca de 3%, os analistas alertam que a redução do défice não é suficiente para compensar o peso crescente do serviço da dívida e das despesas estruturais. Serão necessários mais de 19 mil milhões de dólares adicionais para equilibrar orçamentos e pagar a dívida pública, refletindo a fragilidade das finanças públicas em vários países africanos.
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p style="margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial">A África subsaariana deverá enfrentar um aumento expressivo das necessidades de financiamento nos próximos anos, num contexto de redução da ajuda externa, custos elevados de endividamento e maior pressão sobre os mercados internos, segundo estimativas da BMI e análises do FMI.
As necessidades de financiamento da África subsaariana deverão aumentar 28,2% até 2029, passando de 67,2 mil milhões de dólares em 2024 para cerca de 86,2 mil milhões de dólares em 2029, num contexto marcado pela redução do financiamento externo tradicional, manutenção de taxas de juro elevadas e crescentes exigências orçamentais. As estimativas constam de uma análise da Business Monitor International (BMI), citada pela Agência Lusa, e confirmam o agravamento das pressões fiscais enfrentadas pelos países africanos.
Pressão Orçamental Cresce Apesar De Consolidação Fiscal Gradual
De acordo com a BMI, o aumento das necessidades de financiamento ocorre apesar de uma melhoria gradual dos défices orçamentais na região, que deverão passar, em média, de 3,7% do PIB para cerca de 3% no mesmo período. Ainda assim, os analistas sublinham que a redução do défice não é suficiente para compensar o peso crescente do serviço da dívida e das despesas estruturais associadas ao desenvolvimento económico.
Segundo a nota enviada aos clientes da consultora, mais de 19 mil milhões de dólares do financiamento adicional serão necessários para equilibrar orçamentos e assegurar o pagamento da dívida pública, reflectindo a fragilidade persistente das finanças públicas em vários países africanos.
Países Fora Das Maiores Economias Enfrentam Maior Vulnerabilidade
A BMI destaca que 8,9 mil milhões de dólares do montante adicional previsto até 2029 serão canalizados para países que não integram as cinco maiores economias da África subsaariana — África do Sul, Nigéria, Angola, Quénia e Gana. Esta realidade evidencia que as pressões de financiamento são particularmente severas nas economias de menor dimensão, com acesso mais limitado aos mercados internacionais de capitais.
Num contexto de escassez de ajuda tradicional, estes países enfrentam maiores dificuldades para assegurar liquidez suficiente para financiar o desenvolvimento económico e cumprir compromissos financeiros.
Queda Do Financiamento Externo Agrava Desafios
O agravamento das necessidades de financiamento ocorre num momento em que o financiamento externo tradicional dá sinais de retracção. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para uma redução significativa dos fluxos de financiamento externo para a África subsaariana, associada à diminuição da ajuda pública ao desenvolvimento e à maior aversão ao risco por parte dos investidores internacionais, segundo dados citados pela Reuters.
Esta conjuntura limita a capacidade dos governos africanos de recorrerem a fontes concessionais e força uma maior dependência de instrumentos de mercado, frequentemente a custos mais elevados.
Custos De Endividamento E Mercados Internos Sob Pressão
Relatórios recentes de agências de rating e análises do FMI indicam que muitos países africanos têm recorrido de forma crescente ao endividamento interno para colmatar lacunas de financiamento. Embora esta estratégia reduza a exposição cambial, ela aumenta a pressão sobre os sistemas bancários locais e pode restringir o crédito ao sector privado, afectando o crescimento económico, segundo a Reuters.
As taxas de juro elevadas e a profundidade limitada dos mercados de capitais africanos continuam a representar entraves significativos ao acesso a financiamento sustentável.
Diversificação Das Fontes Surge Como Eixo Estratégico
Face a este contexto, a BMI defende que a diversificação das fontes de financiamento será um elemento central da política económica dos Estados africanos nos próximos anos. Entre os instrumentos apontados estão a emissão de dívida em moedas alternativas ao dólar e ao euro, títulos ligados a matérias-primas ou à sustentabilidade, sukuk (títulos compatíveis com a lei islâmica) e instrumentos dirigidos à diáspora.
Os analistas sublinham que esta diversificação pode contribuir para reduzir a dependência de dívida denominada em dólares, baixar custos médios de financiamento e alongar prazos de maturidade.
Oportunidades E Riscos Da Nova Arquitectura Financeira
Apesar das oportunidades, a BMI alerta que a diversificação das fontes de financiamento não está isenta de riscos. Entre os principais desafios estão a maior complexidade na gestão da dívida, a multiplicidade de credores, as pressões cambiais associadas a emissões em várias moedas e as exigências acrescidas de governação e reporte, especialmente no caso de instrumentos como os sukuk.
A dificuldade acrescida na reestruturação da dívida em cenários de stress financeiro é igualmente apontada como um risco relevante.
Financiamento Interno Continua Subaproveitado
Paralelamente, instituições como o African Development Bank (AfDB) e a Africa Finance Corporation defendem que África dispõe de volumes significativos de capital doméstico — provenientes de fundos de pensões, fundos soberanos e instituições financeiras — que permanecem subaproveitados devido a constrangimentos regulatórios e limitações institucionais, segundo a Reuters.
A mobilização deste capital interno é vista como uma das chaves para reduzir a dependência externa e financiar projectos estruturantes de longo prazo.
Financiamento Como Desafio Estrutural Do Desenvolvimento Africano
O aumento das necessidades de financiamento até 2029 confirma que o acesso sustentável a recursos financeiros continua a ser um dos principais desafios estruturais do desenvolvimento africano. Num contexto global menos favorável, a capacidade dos países africanos de equilibrar consolidação fiscal, crescimento económico e gestão prudente da dívida será determinante para a estabilidade macroeconómica da região.
Fonte: O Económico






