Noa lança livro sobre Craveirinha e reflecte sobre sociedades contemporâneas

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Na última quinta-feira, Francisco Noa voltou às publicações. Numa sessão realizada no Auditório do BCI, na Cidade de Maputo, o ensaísta celebrou a obra do poeta-mor da literatura moçambicana com o lançamento do livro José Craveirinha, esse mandarim.

Durante a apresentação do seu mais recente título, editado pela Moçambique Editora, Francisco Noa disse que José Craveirinha é celebrado timidamente. Por isso mesmo, aproveitando-se de apresentações feitas no estrangeiro,  o professor universitário reuniu artigos em livro, afinal, porque segundo considera, “a escrita e o livro, tal como a conhecemos, estão em risco de desaparecer”.

Recorrendo ao célebre poema “As Saborosas Tanjarinas de Inhambane”, Francisco Noa defendeu a necessidade de investir no conhecimento, através do fortalecimento do investimento na instituição escolar. Pois, de outro modo,  o futuro do país pode ser inviável.

No seu discurso, entre o universo literário e a realidade, Noa referiu-se à igreja como um pilar social fundamental no resguardo da moral, o que, actualmente, não tem acontecido com a abrangência necessária.

Num contexto em que as editoras enfrentam imensas dificuldades na publicação de livros, importantes para a consciência, Francisco Noa sublinhou: “Nós vivemos numa era em que as lógicas que nos governam são lógicas materiais, financeiras, que, aparentemente, enriquecem pessoas. Mas, naquilo que é a essência da humanidade, elas empobrecem as pessoas. Somos uma humanidade cada vez mais pobre naquilo que é a sua própria essência”. Também por isso, o autor exprimiu a sua satisfação pelo investimento da Moçambique Moçambique Editora: que chancela o seu mais recente título. “A literatura não dá dinheiro, dá outras coisas muito mais valiosas que o dinheiro”, disse.

José Craveirinha, esse mandarim foi patrocinado pelo BCI. À instituição bancária, em nome das pessoas da cultura, Noa pediu para que se amplie e se aprofunde, porque as sociedades contemporâneas são sociedades extremamente carentes.

“As sociedades contemporâneas são sociedades órfãs, são órfãs por que somos uma sociedade cada vez mais desamparada e desorientada, no tempo que é gerido pelas incertezas. No nosso tempo, nos tempos dos nossos pais, tínhamos sempre alguém que nos orientava. É verdade que não vivíamos a turbulência que vivemos hoje, mas, curiosamente, tínhamos vários pilares que nos orientavam e não havia a necessidade de nos sentirmos perdidos. Mesmo quando éramos biologicamente órfãos (sem pai, sem mãe) , a sociedade orientava-nos”, disse Noa, acrescentando logo de seguida: “Hoje, nós temos cada vez menos pilares orientadores. Era a escola que nos orientava, era a igreja que nos orientava, eram os vizinhos que nos orientam. Hoje não temos nada disso”. Hoje, num tempo, de facto, de muita perturbação, de muita orientação, nós temos cada vez mais pilares desorientadores e esses pilares tradicionalmente orientadores estão todos em crise. A família está em crise. A família tradicional, como nós conhecemos, já não existe mais”.

O José Craveirinha, esse mandarim foi apresentado pelo professor universitário Aurélio Cuna, para quem ler o poeta-mor é um exercício de revisitação dos espaços, exteriores e interiores, telúricos, sociais, culturais e, muito particularmente, míticos.

Fonte: O País

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