Luciano Gonçalves é candidato a presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, na lista de Pedro Proença. Em entrevista a A BOLA fala sobre o ato eleitorial do dia 14 de fevereiro e do que quer mudar no setor
— Com o novo modelo de governação que defende para o Conselho de Arbitragem da FPF vai conseguir uma melhor arbitragem, com menos ruído e mais competência?
— Não tenho dúvidas. Nós temos de entrar numa fase da arbitragem que nos permita dar o salto. Hoje em dia o futebol está a exigir muito mais da arbitragem e acredito que com esta nova visão governativa vamos ter, a muito curto prazo, árbitros muito mais capacitados e a desempenhar cada vez melhor as suas funções.
— Está na APAF desde 2011, desde 2016 como presidente. Ao longo de todos estes anos sempre foi um defensor dos árbitros e muitas vezes crítico em relação a algumas medidas e posições, do próprio Conselho de Arbitragem. Porque é que este é o momento de ir para o outro lado?
— Sim, é muito interessante isso… Eu conheço o Pedro Proença há mais de 25 anos. Enquanto ele foi presidente da Liga e eu presidente da APAF tivemos tempos muito difíceis e grandes discussões. Mas, tivemos sempre um grande respeito mútuo. E com o presidente do Conselho de Arbitragem também. Eu critiquei da mesma forma que o novo presidente da APAF irá criticar o novo presidente do Conselho de Arbitragem. O meu objetivo foi sempre que o Conselho de Arbitragem evoluísse, crescesse e também tivesse a visão dos árbitros. Isso não invalida nada que hoje eu decidisse abraçar este projeto para o Conselho de Arbitragem, quando também o tinha criticado. Da mesma forma como tenho uma certeza que irá, o próximo presidente da APAF também o irá fazer. Só assim conseguimos crescer em conjunto.
— Como é que se valoriza o trabalho do árbitro e como é que se melhora a qualidade dos árbitros, para que possamos ter os árbitros portugueses ao mais alto nível lá fora, como já temos treinadores e jogadores?
— Nós também não nos podemos esquecer que já tivemos árbitros, e continuamos a ter árbitros nos grandes palcos. Nós somos o segundo país da Europa com mais presenças de árbitros nas competições internacionais. Nós conseguimos fazer isso aumentando o número de árbitros. Esse é o ponto principal. Criando condições para que se possa reter os árbitros. Tem de existir um investimento claro nos conselhos de arbitragem distritais porque é lá que todos começam. O melhor árbitro do Mundo também começou no distrital. Que o árbitro quando começa que veja uma luz ao fundo do túnel, de que vale a pena ser árbitro porque tem ali uma saída profissional. Temos de caminhar para essa profissionalização. Nós no último ano tivemos a felicidade de ter o Artur Soares Dias a fazer uma final europeia. Tivemos o Artur Soares Dias presente numa competição europeia. Tivemos o Eduardo Coelho no Mundial. Quando isso acontece mais jovens se inscrevem a quererem ser árbitros.
— Preocupa-o mais quando ouve uma enorme crítica a uma arbitragem, com erros, na Liga, ou quando vê que um jovem de 14 ou 15 anos foi agredido enquanto árbitro num jogo nos distritais?
— Preocupam-me as duas coisas porque elas estão ligadas. Cada episódio triste que vai acontecendo a nível distrital vai condicionar aquilo que são as atuações do futebol profissional. Da mesma forma, em sentido inverso, cada situação que vai acontecendo de alarido no futebol profissional aumenta os nossos problemas de agressões a nível distrital.
— Quando não havia VAR todos achávamos que o VAR era o salvador e que iria acabar todo o ruído à volta da arbitragem. Sete anos depois verdade é que não foi isso que aconteceu e sistematicamente há críticas ao árbitro, como sempre houve, e agora também ao VAR. Como se ultrapassa isto?
— Ultrapassa-se continuando a trabalhar de uma forma muito séria e profissional e comunicando mais e melhor. A arbitragem tem que, de uma vez por todas, sair daquilo que é a sua bolha. Se nós explicarmos o porquê de aquilo ter acontecido e assumirmos, como se erra, aliviamos o ruído. Isso vai fazer com que as pessoas olhem para nós de forma diferente. A arbitragem precisa, de uma forma clara e inequívoca, assumirmos quando erramos e demonstrarmos aquilo que são os nossos critérios das decisões. Nós temos um quadro de VAR que tem apenas sete anos e alguns deles têm dois ou três anos como VAR. Nós temos de caminhar para a especialização de um quadro VAR. Isto é um crescimento gradual e nós temos de ter a mente aberta para nos podermos ajustar às novas realidades.
— Quando ouve vozes que pedem a vinda de árbitros estrangeiros para determinados jogos mais mediáticos do futebol português, que opinião é que tinha enquanto presidente da APAF e que opinião é que acha que vai ter no futuro, se for o novo presidente do Conselho Arbitragem?
— Vou continuar a ter a mesma opinião. Eu sou apologista do intercâmbio, e da troca de conhecimento. Ao longo destes nove anos promovi dezenas de intercâmbios entre árbitros nacionais e jovens árbitros, para estarem presentes em outros torneios internacionais. Não sou apologista, não era no passado, e não irei ser certamente no futuro, é que tenha de se ir buscar um árbitro estrangeiro para vir fazer um jogo a Portugal mediático, porque os nossos árbitros não são competentes ou porque os clubes entendem que os árbitros estrangeiros lhe dão mais seriedade nos processos. Isso não concordo. Isso não aceito só para calar o ambiente cá.
— Ao longo destes nove anos, como presidente da APAF, foi construindo um caminho na arbitragem portuguesa, pois não chega cá como antigo árbitro. O dirigismo deu-lhe aquilo que o ser árbitro não lhe permitiu?
— Eu venho para a arbitragem pelo dirigismo. Eu venho para a arbitragem, porque era vice-presidente de uma coletividade, tinha de indicar alguém para tirar o curso de árbitro na AF de Leiria e como não encontrava mais ninguém fui eu enquanto dirigente do clube da aldeia. Criei o bichinho de arbitragem entre 2001 e 2011, sensivelmente, enquanto árbitro, tive sempre ligado ao dirigismo relacionado com a arbitragem. Em 2011, quando abracei o projeto da APAF, acabo por trilhar um caminho e focar-me, o que puxou ainda mais para mim esta paixão que tenho pelo dirigismo. Esta minha paixão leva a que conheça os 22 distritos, de norte a sul do país, e ilhas. Acredito que posso fazer um grande trabalho, juntamente com a minha equipa, por conhecimento daquilo que são os problemas reais da arbitragem. Não apenas de uma parte elitista da arbitragem do futebol profissional. Conheço aquilo que são os problemas dos 4 mil árbitros que nós temos em Portugal, e conheço também aquilo que são os problemas do futebol profissional. Não tenho dúvida nenhuma que temos muitos bons árbitros e árbitras. Acredito muito nesta nova geração de árbitros que nós temos atualmente.
— Uma mensagem do Luciano Gonçalves, candidato a Presidente do Conselho de Arbitragem, para os árbitros.
— Tranquilidade. Pedir muito aos árbitros que no decorrer desta fase política se coloquem à margem daquilo que tem a ver com um processo político. Não acrescenta nada ao seu bem-estar e ao seu foco, naquilo que tem de ser o desempenho das suas funções. Isto é uma parte política de dirigentes, e podem ter confiança que o processo irá decorrer com muita elevação, tanto da nossa lista e da nossa equipa, como da outra lista. Que seja com um processo eleitoral com elevação e muita confiança nos dirigentes que irão tomar conta da arbitragem para os próximos 12 anos.
— E que mensagem quer deixar para os 84 delegados, que vão votar?
— Que tenham confiança naquilo que é uma equipa una, liderada por Pedro Proença. Temos a felicidade de no passado ele ter sido uma referência e o melhor árbitro do Mundo em 2012, e temos de acreditar em quem ele escolheu para liderar a arbitragem. Acreditem que estão criadas as condições todas para se poder ter uma grande equipa, para se fazer um grande trabalho na Federação Portuguesa de Futebol. Confiem nas pessoas, confiem nos projetos, e exijam também de nós ideias, projetos, compromissos, explicações, e que dia 14 votem em consciência.
Fonte: A Bola