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Friday, November 28, 2025
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O Papel da Economia Criativa na Transformação Moçambicana

Resumo

A economia criativa é reconhecida nas políticas públicas, mas em muitos países africanos a cultura é subestimada como fonte de rendimento e inovação. A falta de estrutura impede que artistas tenham contratos, enquadramento legal, financiamento e profissionalismo. A improvisação reina devido à informalidade, prejudicando a especialização e a valorização do setor cultural. O financiamento concentra-se em poucos, limitando novas vozes e a diversidade artística. A digitalização oferece oportunidades, mas sem acesso à tecnologia e internet a preços acessíveis, os lucros vão para plataformas internacionais em vez de criadores locais. É necessário investir em políticas consistentes para impulsionar a economia criativa e permitir o seu crescimento sustentável.

Por: Gelva Aníbal

A economia criativa ganhou espaço nas políticas públicas e nas conversas sobre desenvolvimento. Mas ainda há uma distância evidente entre aquilo que se afirma sobre o sector e o que realmente acontece no terreno. Em muitos países africanos, e em especial nos que enfrentam limitações económicas, a cultura continua a ser vista mais como um adorno do que como fonte concreta de rendimento, emprego e inovação.

A ideia de que o talento pode transformar-se em economia não é nova. O que falta é estrutura. Muitos artistas trabalham sem contratos, sem enquadramento legal ou fiscal justo e sem acesso a financiamento. Há talento suficiente para fazer da criatividade uma área lucrativa, mas a informalidade prolonga a precariedade e impede que a actividade cultural avance para um patamar profissional.

O resultado é uma cultura que vive basicamente da improvisação: quem canta, produz; quem escreve, também faz edição; quem representa, organiza o espectáculo. A versatilidade é admirável, mas esta acumulação não substitui equipas qualificadas, desde técnicos de som até gestores culturais. Sem especialização, a cadeia de valor fica incompleta.

É comum ouvir que a cultura é um património de todos, mas essa visão não se reflecte na forma como o sector é financiado. As oportunidades continuam concentradas em poucos, muitas vezes os mesmos nomes, os mesmos eventos, as mesmas instituições. A consequência é a repetição, um mercado que gira em torno de figuras reconhecidas, deixando de lado novas vozes que poderiam renovar o panorama artístico.

A digitalização trouxe oportunidades claras, distribuição musical online, bilhética electrónica, festivais transmitidos globalmente, design e audiovisual com alcance transfronteiriço. Contudo, sem políticas consistentes de acesso à tecnologia e internet com preços acessíveis, a maior fatia do lucro fica nas plataformas internacionais, e não nas mãos dos criadores locais.

A economia criativa pode ser uma das áreas mais dinâmicas do desenvolvimento contemporâneo. Mas isso não acontece apenas porque existe talento. É preciso que haja investimento, gestão profissional, políticas transparentes e visão a longo prazo. A cultura movimenta valores económicos verdadeiros, e continuar a tratá-la apenas como entretenimento enfraquece o seu potencial.

Se a criatividade gera emprego, promove exportações, fortalece identidades e estimula inovação, falta tomar decisões que a coloquem no centro do desenvolvimento, não como promessa, mas como prática. Quando a arte deixa de ser sobrevivência e se torna profissão, aí sim nasce uma economia cultural que transforma vidas e contribui para o futuro colectivo.

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