Resumo
A Diretora-Geral da Organização Mundial do Comércio, Ngozi Okonjo-Iweala, alertou para os riscos do aumento das tensões comerciais entre os EUA e a China, referindo que o "desacoplamento" entre as duas maiores economias mundiais pode reduzir o PIB global em até 7%. Okonjo-Iweala instou Washington e Pequim a recuarem na escalada tarifária, destacando que as medidas protecionistas podem levar a perdas significativas de produção e bem-estar. A OMC reviu em baixa as previsões de crescimento do comércio global de mercadorias, citando os efeitos das tarifas impostas anteriormente. A líder da OMC defendeu a necessidade de reformar o sistema multilateral para lidar com os desafios do comércio contemporâneo, salientando a importância da cooperação internacional.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Ngozi Okonjo-Iweala insta Washington e Pequim a recuarem na escalada tarifária e adverte que o “decoupling” entre as duas maiores economias do mundo representa um dos maiores riscos à estabilidade económica global desde a Segunda Guerra Mundial.
A Directora-Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, advertiu que a intensificação da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China constitui uma ameaça directa à estabilidade económica global, alertando que um processo de “desacoplamento” (decoupling) entre as duas maiores economias do planeta poderá reduzir o PIB mundial em até 7% no longo prazo.
A Crise Comercial Reacende Riscos Globais de Recessão
Em entrevista à Reuters, Okonjo-Iweala revelou ter mantido contactos com representantes de ambos os países, apelando à moderação e ao diálogo. “Estamos obviamente preocupados com qualquer escalada entre os Estados Unidos e a China. Esperamos que ambas as partes voltem à mesa e encontrem uma solução”, afirmou.
A OMC expressa “profunda inquietação” com o impacto dos novos controlos à exportação de terras-raras impostos por Pequim e das tarifas de 100% sobre importações chinesas anunciadas por Washington, medidas que deverão entrar em vigor no próximo mês.
Segundo a dirigente, “qualquer forma de desacoplamento que divida o mundo em dois blocos comerciais acarretará perdas significativas de produção e bem-estar”, estimando-se reduções de até 7% no PIB global e perdas de dois dígitos nos países em desenvolvimento.
Previsões Comerciais Pioram com o Efeito das Novas Tarifas
A Organização Mundial do Comércio reviu em baixa a sua previsão de crescimento do comércio global de mercadorias para 0,5% em 2026, contra 1,8% anteriormente, citando os efeitos retardados das tarifas impostas pela administração Trump.
Para 2025, o crescimento deverá situar-se em 2,4%, mas a OMC avisa que as novas medidas protecionistas poderão anular essa recuperação.
“As pressões sobre o sistema comercial não diminuíram — e poderão intensificar-se. A plena extensão das tarifas recentes ainda não foi sentida”, advertiu Okonjo-Iweala durante um encontro do G20, em que apelou a um “retorno urgente à estabilidade e previsibilidade nas trocas internacionais”.
Multilateralismo em Crise e Necessidade de Reforma
A líder da OMC defendeu que o actual contexto de fragmentação global deve ser aproveitado para reformar o sistema multilateral e adaptá-lo aos desafios do comércio contemporâneo, incluindo serviços digitais, comércio verde e economia de dados.
“Há problemas globais que nenhum país pode resolver sozinho. Precisamos de cooperação e de instituições reformadas que possam responder rapidamente às novas realidades”, afirmou, acrescentando que “a relevância da OMC depende da sua capacidade de modernizar-se e de demonstrar valor concreto para os seus membros”.
Okonjo-Iweala revelou também ter reunido com o novo embaixador norte-americano junto da OMC, Joseph Barloon, e saudou a decisão dos EUA de retirar a organização da lista de cortes orçamentais planeados para 2026, um gesto visto como sinal de reaproximação diplomática.
Tensões Comerciais e o Impacto nas Economias Emergentes
A crescente fragmentação das cadeias de valor preocupa particularmente os países em desenvolvimento. Para economias dependentes da procura global de matérias-primas — como Moçambique, Angola ou Zâmbia —, um enfraquecimento do comércio internacional poderá traduzir-se em menor procura de exportações, menor entrada de investimento estrangeiro e maior volatilidade cambial.
Analistas citados pelo O.Económico sublinham que a guerra comercial EUA–China tende a deslocar fluxos comerciais e de capital, podendo beneficiar mercados alternativos a curto prazo, mas prejudicar o crescimento estrutural das economias africanas a médio e longo prazo.
“Uma economia global fragmentada é sinónimo de custos mais elevados, menor eficiência e menor inclusão. Países que dependem da exportação de bens primários são os primeiros a sentir o impacto”, explicou um economista moçambicano ouvido pelo jornal.
OMC Pede Cooperação e Estabilidade Comercial Global
No encerramento da sua intervenção no G20, Okonjo-Iweala foi categórica: “Não há estabilidade financeira global sem estabilidade comercial global.”
A dirigente alertou ainda que a diversão de comércio resultante das novas tarifas está a alimentar o ressurgimento de políticas protecionistas, um fenómeno que, segundo a OMC, ameaça desfazer “o maior avanço de liberalização económica das últimas oito décadas”.
O apelo da OMC surge num momento de crescente incerteza internacional, marcado por políticas unilaterais e rivalidades geoeconómicas. Num contexto em que as cadeias globais de valor se tornam cada vez mais fragmentadas, o risco de uma economia mundial bipartida entre Washington e Pequim acentua o debate sobre a governação económica global e o futuro do multilateralismo.
Fonte: O Económico






