Resumo
A tuberculose mantém-se uma das principais causas de morte no mundo, sendo a primeira entre as doenças infecciosas, conforme o Relatório Global da Tuberculose 2025 da OMS. Apesar de ligeiras melhorias em relação a 2023, o progresso global ainda é insuficiente para atingir as metas da Estratégia Fim da Tuberculose até 2025. Angola, Brasil e Moçambique estão entre os países de língua portuguesa com alta carga de tuberculose. O Brasil destaca-se pela alta taxa de deteção de casos e financiamento nacional, enquanto Moçambique apresenta desafios na confirmação bacteriológica. Angola avançou no diagnóstico da tuberculose resistente, mas enfrenta custos elevados com saúde. A nível global, a tuberculose continua a ser a principal causa de morte por agente infeccioso, com 10,7 milhões de casos em 2024 e uma redução ligeira em relação a 2023, porém ainda distante das metas estabelecidas.
Apesar dos números apresentados no relatório representarem uma ligeira melhoria em relação a 2023, a OMS alerta que o progresso global permanece insuficiente para alcançar as metas estabelecidas na Estratégia Fim da Tuberculose, que prevê reduções de 50% na incidência e 75% na mortalidade até 2025.
Angola, Brasil e Moçambique
O documento também apresenta dados específicos sobre países de língua portuguesa, incluindo Brasil, Angola e Moçambique, que aparecem entre os de alta carga de tuberculose acompanhados pela OMS.
Durante o lançamento do relatório, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, destacou que o mundo atravessa “um período crucial”. Segundo ele, mesmo enquanto se precisa cumprir os compromissos da segunda reunião de alto nível da ONU sobre tuberculose, TB, “entramos numa nova fase de escassez”.
A OMS reafirmou a meta de trabalhar com doadores, parceiros e países afetados para mitigar o impacto dos cortes de financiamento, encontrar soluções inovadoras e mobilizar compromissos políticos e financeiros para acabar com a tuberculose.
Avanços e desafios
O Brasil manteve uma das maiores taxas de detecção de casos: mais de 80% das pessoas que desenvolveram tuberculose em 2024 foram oficialmente diagnosticadas e notificadas. O país figura entre os que mais avançaram em diagnóstico rápido e mantém o financiamento majoritariamente com recursos domésticos, 96%, sinalizando autonomia na resposta nacional.
Já em Moçambique, o relatório mostra uma cobertura de diagnóstico acima de 80%, um dos melhores resultados entre os países africanos de alta carga, embora ainda existam desafios de confirmação bacteriológica, presente em apenas metade dos casos. O país também está entre os que registraram redução no número de notificações em 2025, exigindo atenção contínua.
Angola alcançou cobertura de diagnóstico para tuberculose resistente a medicamentos acima de 80% no ano passado, mas o relatório chama atenção para o alto número de famílias que enfrentam custos elevados com saúde. O país, no entanto, deixou a lista de países com alta carga de coinfecção TB/HIV, refletindo avanços importantes na integração de serviços.
Situação global
A tuberculose continua sendo a principal causa de morte por um único agente infeccioso no mundo. Em 2024, 10,7 milhões de pessoas adoeceram e 1,23 milhão morreram da doença, uma leve redução em relação a 2023, mas ainda acima dos níveis de 2020. A taxa global de incidência caiu 1,7% entre 2023 e 2024, voltando ao patamar de 131 casos por 100 mil habitantes.
Apesar dos progressos, o ritmo global permanece distante das metas da “Estratégia Fim” da doença: até 2025, a meta é reduzir a incidência em 50% e as mortes em 75%, mas os resultados atuais são de apenas 12% e 29%, respectivamente.
O relatório também indica que 54% dos novos casos são entre homens, 35% entre mulheres e 11% entre crianças.
A doença permanece fortemente concentrada: 87% dos casos mundiais estão em 30 países de alta carga, com Índia, Indonésia, Filipinas, China, Paquistão, Nigéria, República Democrática do Congo e Bangladesh representando 67% do total global.
Desigualdade no financiamento ameaça progressos
Em 2024, o financiamento global para prevenção, diagnóstico e tratamento da tuberculose foi de US$ 5,9 bilhões, apenas 27% da meta anual de US$ 22 bilhões até 2027. Já o investimento em pesquisa atingiu US$ 1,2 bilhão em 2023, o equivalente a 24% do necessário.
A OMS alerta que os cortes internacionais previstos a partir de 2025 podem afetar gravemente os programas nacionais, sobretudo em países com alta carga da doença.
Perspetivas e compromissos até 2030
A OMS destaca que 101 países já alcançaram reduções de pelo menos 20% na taxa de incidência desde 2015, e 65 reduziram as mortes por tuberculose em 35% ou mais.
No entanto, a organização reforça que alcançar as metas globais dependerá de cobertura universal de saúde, proteção social e investimento contínuo em pesquisa, incluindo o desenvolvimento de uma nova vacina: atualmente, 18 candidatas estão em fase clínica, seis delas em testes de fase 3.
Com o Relatório Global da Tuberculose 2025, a OMS reforça o alerta: o progresso existe, mas é frágil. Em meio a um cenário de restrição financeira, a liderança política e a cooperação internacional, serão decisivas para transformar avanços isolados em resultados sustentáveis rumo ao objetivo comum de acabar a epidemia global da tuberculose até 2030.
*Afonso Vilas Boas é estagiário da ONU News sob supervisão da redação.
Fonte: ONU






