Resumo
O preço do petróleo Brent subiu para 65 dólares após a OPEC+ adiar aumentos de produção no 1.º trimestre de 2026, devido a sanções à Rússia e fraca procura asiática. A decisão visa evitar excesso de oferta e manter a estabilidade do mercado, com o Brent a atingir 65,01 dólares por barril e o WTI a 61,19 dólares. A produção será aumentada em Dezembro, mas pausada no início de 2026, devido à incerteza sobre as sanções e à suavização da procura. As sanções ocidentais contra petrolíferas russas e a tensão geopolítica influenciaram as decisões do cartel, que buscam proteger os preços e observar o impacto nos fluxos de petróleo russo. O ataque de drones ucranianos a um porto russo e o enfraquecimento da procura asiática devido às tarifas dos EUA também impactaram o mercado.
O preço do petróleo iniciou a semana em alta moderada, após a OPEC+ decidir suspender os aumentos de produção previstos para o primeiro trimestre de 2026, numa tentativa de evitar um novo excesso de oferta e preservar a estabilidade do mercado.
Na manhã desta segunda-feira (03 de Novembro), o Brent subia 0,37%, para 65,01 dólares por barril, enquanto o WTI avançava 0,34%, para 61,19 dólares. A decisão do grupo foi interpretada pelos analistas como uma resposta prudente à ameaça de excedente global, num contexto de produção recorde nos Estados Unidos e sinais de enfraquecimento da procura asiática.
“É um reconhecimento do grande excedente que o mercado enfrenta, sobretudo no início do próximo ano”, explicou Warren Patterson, Director de Investigação de Commodities da ING.
“Ainda há muita incerteza quanto ao impacto real das sanções norte-americanas sobre os fluxos de petróleo russo.”
Produção Aumenta em Dezembro, Mas Pausa no Início de 2026
A OPEC+ decidiu aumentar a produção em 137 mil barris por dia em Dezembro, mantendo o ritmo definido para Outubro e Novembro.
No entanto, as quotas adicionais previstas para Janeiro, Fevereiro e Março foram suspensas, “por motivos sazonais”, segundo o comunicado oficial do grupo.
A medida visa evitar um desequilíbrio entre oferta e procura durante o período de menor consumo nos meses de Inverno e dá ao cartel tempo para observar o impacto das sanções ocidentais sobre o sector energético russo.
“Há razões suficientes para uma abordagem cautelosa, face à incerteza sobre a oferta e à suavização esperada da procura”, afirmou Helima Croft, Directora de Estratégia de Commodities da RBC Capital Markets.
Geopolítica e Sanções à Rússia Pesam nas Decisões do Cartel
A decisão da OPEC+ foi anunciada poucas horas antes da cimeira petrolífera de Abu Dhabi (ADIPEC), que reuniu ministros e líderes do sector num contexto de forte tensão geopolítica.
Os Estados Unidos e o Reino Unido anunciaram novas sanções contra as petrolíferas russas Rosneft e Lukoil, acusadas de financiarem o esforço de guerra da Rússia na Ucrânia.
“Sim, o OPEC+ está a recuar, mas é um movimento calculado”, afirmou Jorge León, Chefe de Análise Geopolítica da Rystad Energy.
“As sanções introduzem uma nova camada de incerteza sobre a oferta russa. Ao pausar, o grupo protege os preços, projeta unidade e ganha tempo para observar como os fluxos de petróleo russo serão afectados.”
No domingo anterior, um ataque de drones ucranianos atingiu o porto russo de Tuapse, no Mar Negro, provocando um incêndio e danificando um navio-tanque — um incidente que reforçou a percepção de risco sobre a infra-estrutura energética russa.
Procura Asiática Enfraquece com Efeito das Tarifas dos EUA
Embora o anúncio da OPEC+ tenha sustentado ligeiramente os preços, dados industriais da Ásia revelaram um quadro menos optimista.
Os índices de actividade fabril na China, Japão e Coreia do Sul recuaram em Outubro, reflectindo quedas nas encomendas de exportação, em parte devido às tarifas impostas pelos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump.
A Ásia é a maior região consumidora de petróleo do mundo, e a desaceleração industrial — aliada ao abrandamento do comércio global — limita o potencial de valorização dos preços.
Os analistas mantêm previsões relativamente estáveis, com o mercado a equilibrar-se entre riscos geopolíticos e pressões económicas globais.
Segundo uma sondagem da Reuters, as estimativas de excedente variam entre 190 mil e 3 milhões de barris por dia, o que explica a cautela adoptada pela OPEC+.
Estados Unidos Produzem em Níveis Recorde
O relatório da Energy Information Administration (EIA) indica que a produção de crude norte-americana subiu em Agosto para 13,8 milhões de barris por dia, um novo recorde histórico.
Este nível de produção, impulsionado por ganhos de eficiência e aumento de perfuração no Texas e no Novo México, aumenta a pressão competitiva sobre os membros do OPEC+.
Nos Estados Unidos, o preço médio da gasolina situava-se esta segunda-feira em 3,03 dólares por galão, um indicador sensível para a administração Trump, que tem vindo a defender maior produção doméstica através do National Energy Dominance Council, liderado por Doug Burgum.
Mercado em Equilíbrio Frágil e Expectativas Contidas
O petróleo Brent permanece bem abaixo do pico de 115 dólares por barril alcançado após a invasão russa da Ucrânia em 2022, e longe do mínimo de 60 dólares registado em Outubro.
Para muitos analistas, o actual nível em torno de 65 dólares representa um equilíbrio precário entre oferta abundante e riscos de disrupção.
A Rystad Energy considera que a OPEC+ adoptou uma estratégia de “cautela inteligente”, optando por preservar o preço em vez de expandir a produção num momento de incerteza global.
Ao mesmo tempo, os Emirados Árabes Unidos continuam a posicionar-se como actor-chave entre a diplomacia energética e o futuro da transição energética, após terem sediado a COP28 em 2023, onde se comprometeram a reduzir gradualmente o uso de combustíveis fósseis.
OPEC+ Procura Ganhar Tempo e Preservar Preços
O cenário actual mostra um mercado em que o OPEC+ tenta evitar um novo colapso de preços, equilibrando disciplina produtiva, tensões geopolíticas e concorrência norte-americana.
Com a procura asiática enfraquecida e as sanções à Rússia ainda a repercutirem-se, o cartel privilegia a prudência.
“O grupo está a comprar tempo”, resume um analista. “Quer observar se a conjuntura geopolítica e a procura justificam voltar a expandir a produção — ou se a contenção é a melhor política para manter os preços sustentáveis.”
Fonte: O Económico
