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O ouro, tradicionalmente visto como activo de refúgio em tempos de incerteza, recuou mais de 1% esta sexta-feira, atingindo o nível mais baixo em quase um mês. A descida reflecte o arrefecimento das tensões geopolíticas e a reorientação dos mercados para os dados macroeconómicos dos EUA, especialmente os relativos à inflação. A atenção centra-se agora no indicador PCE, que poderá ditar o rumo das taxas de juro norte-americanas nos próximos meses.
O preço do ouro à vista caiu 1,3%, fixando-se nos $3.283,56 por onça, o valor mais baixo desde finais de Maio. Esta correcção representa uma queda de mais de 2% ao longo da semana e um recuo de mais de $200 face ao máximo histórico registado em Abril.
O principal motor desta retração é o abrandamento do risco geopolítico, após o cessar-fogo entre o Irão e Israel — um acordo mediado pelos EUA e que, para já, se mantém estável. Paralelamente, Washington e Pequim anunciaram um acordo para agilizar o fornecimento de terras raras aos EUA, sinalizando uma ligeira distensão nas tensões comerciais.
Nitesh Shah, estratega de matérias-primas na WisdomTree, aponta para um fenómeno técnico: “Tivemos uma fase de forte valorização nos últimos meses. É perfeitamente natural assistirmos agora a uma correcção por reversão à média.”
O mercado volta a concentrar-se no comércio global e nos dados económicos. O próximo grande evento é a divulgação do índice de Preços de Despesa de Consumo Pessoal (PCE) — o indicador preferido da Reserva Federal (Fed) para medir a inflação — agendada para as 12h30 GMT.
Segundo Thomas Barkin, presidente do Fed de Richmond, as tarifas introduzidas recentemente deverão exercer pressão ascendente sobre os preços. Já Neel Kashkari, do Fed de Minneapolis, reconhece que os efeitos poderão estar apenas diferidos no tempo.
Apesar do seu estatuto de cobertura contra a inflação, o ouro — um activo que não gera rendimento — tende a perder atractivo em ambientes de taxas de juro elevadas.
Nos restantes metais preciosos, a prata caiu 1,4%, situando-se em $36,09 por onça. O platinum, após alcançar o seu ponto mais alto desde 2014, recuou 3,8% para $1.363,66. O paládio registou uma ligeira quebra de 0,2%, fixando-se em $1.129,98.
Segundo uma nota do Commerzbank, o aumento anterior do platinum deveu-se sobretudo à diferença de preço em relação ao ouro, que muitos investidores consideram actualmente sobrevalorizado.
A trajectória descendente do ouro reflecte a crescente sensibilidade dos mercados a sinais de estabilização geopolítica e à expectativa de novos dados sobre a inflação nos EUA. Ainda que o metal continue a desempenhar um papel fundamental como reserva de valor, os investidores parecem estar, por ora, a reposicionar-se com base na evolução das taxas de juro e nos equilíbrios comerciais globais.
Fonte: O Económico