Ouro Enfrenta Pressão com Avanços nas Negociações EUA-UE e Fortalecimento do Dólar

0
35

O preço do ouro prolongou a sua série de perdas, pressionado pela recuperação do dólar e pela diminuição da procura por activos de refúgio, à medida que os mercados avaliam com cautela os sinais de distensão nas relações comerciais entre os Estados Unidos e a União Europeia. Apesar de uma trajectória ascendente em 2025, o ouro mostra agora vulnerabilidade face à combinação entre expectativas de política monetária e desenvolvimentos geopolíticos.

Após atingir máximos históricos no mês anterior, o ouro perdeu fôlego, com uma queda de 0,8% registada esta terça-feira, a seguir a uma descida de 0,4% na sessão anterior. O movimento reflecte o arrefecimento da procura por segurança, impulsionado pela percepção de que as negociações comerciais entre Washington e Bruxelas podem evitar uma escalada tarifária.

O anúncio de que a União Europeia pretende acelerar o diálogo com os EUA para impedir a imposição de tarifas de 50% sobre bens europeus — inicialmente ameaçadas pelo Presidente Trump — foi interpretado como um sinal de desanuviamento. O impacto imediato foi sentido nos mercados cambiais: o Bloomberg Dollar Spot Index subiu 0,1%, tornando o ouro mais caro para compradores noutras moedas.

Esta dinâmica, segundo analistas, reduz o incentivo à alocação em activos como o ouro, tradicionalmente utilizado como hedge contra instabilidade cambial ou incerteza geopolítica. A Bloomberg reporta que os fundos de investimento cotados em bolsa (ETFs) com lastro em ouro registaram cinco semanas consecutivas de resgates, após alcançarem os níveis mais elevados em mais de um ano, em Abril.

Factores técnicos e expectativas futuras

Apesar da recente correcção, o ouro registou um ganho superior a 25% desde o início do ano, sustentado inicialmente por preocupações com o conflito no Médio Oriente, a guerra na Ucrânia, e o agravamento do défice fiscal dos EUA. Contudo, as recentes declarações de autoridades monetárias e os próximos indicadores económicos colocam em pausa a trajectória ascendente do metal.

Os mercados aguardam agora o índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE), principal indicador de inflação observado pela Reserva Federal dos EUA, que será publicado esta sexta-feira. Caso os dados sinalizem contenção na inflação, poderá haver menor pressão para subida das taxas de juro — factor que, por sua vez, influenciaria positivamente os preços do ouro.

Mesmo assim, o cenário permanece altamente incerto. O défice fiscal crescente dos EUA, a instabilidade geopolítica e a volatilidade cambial continuam a alimentar a possibilidade de novos picos nos preços do ouro. A Citigroup Inc. reviu em alta a sua previsão de curto prazo, apontando para um possível retorno à faixa dos 3.500 USD por onça, caso as tensões políticas voltem a intensificar-se.

O ouro, símbolo por excelência de protecção financeira em tempos de crise, vive actualmente um momento de reavaliação. A queda recente não anula a sua valorização acumulada, mas reflecte uma mudança de narrativa nos mercados: de aversão ao risco para especulação em torno de normalização monetária e realinhamento comercial.

A trajectória futura dependerá da sustentabilidade da trégua entre EUA e UE, da evolução dos fundamentos fiscais e monetários dos EUA, e do grau de instabilidade nos palcos geopolíticos onde se disputa a nova ordem mundial.

Fonte: O Económico

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu nome aqui
Por favor digite seu comentário!