O petróleo está a caminho de encerrar a semana com perdas acumuladas, num contexto em que a OPEP+ considera um novo aumento significativo da produção, enquanto persistem as preocupações sobre excesso de oferta e enfraquecimento da procura global, agravadas por tensões comerciais e incertezas geopolíticas.
O Brent caiu para perto dos 64 dólares por barril, registando a quarta sessão consecutiva em queda e acumulando uma perda semanal de cerca de 2%. A descida reflete não apenas a resposta do mercado às conversações da OPEP+, como também os efeitos persistentes da desaceleração económica e da guerra comercial liderada pelos EUA.
Produção em Alta e Preços em Baixa
Segundo fontes do cartel, os membros da OPEP+ — incluindo a Arábia Saudita, seu líder de facto — discutem um novo aumento das quotas de produção, desta vez na ordem dos 411 mil barris por dia, já para Julho. A decisão poderá ser tomada numa reunião virtual agendada para 1 de Junho.
Este potencial aumento surge num momento em que os stocks comerciais de petróleo dos EUA voltaram a subir, alimentando preocupações com um mercado já saturado, e em que o petróleo acumula uma desvalorização de cerca de 14% no ano, tendo atingido mínimos desde 2021 no mês passado.
“Regressou o sentimento pessimista no mercado petrolífero esta semana”, disse Jens Naervig Pedersen, estratega do Danske Bank. “Além da possibilidade de um novo aumento da produção pela OPEP+, o avanço nas negociações nucleares com o Irão e a estagnação nas conversações comerciais também pesam no sentimento dos investidores.”
Geopolítica e Incógnitas no Médio Oriente
O mercado foi momentaneamente agitado por um relatório da CNN que indicava que Israel estaria a preparar um eventual ataque a instalações nucleares iranianas, o que gerou ganhos pontuais. No entanto, o tom foi suavizado após declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Abbas Araghchi, que admitiu a possibilidade de um acordo com os EUA que evitaria armas nucleares, embora mantendo o enriquecimento de urânio.
Está agendada uma nova ronda de negociações entre Teerão e Washington esta sexta-feira em Roma, o que poderá ter impacto adicional sobre a trajectória dos preços do petróleo, dependendo dos avanços obtidos.
Pressão Sobre o Petróleo Russo
Do lado europeu, o Comissário da Economia da União Europeia, Valdis Dombrovskis, defendeu a redução do tecto do preço do petróleo russo para 50 dólares por barril — actualmente fixado em 60 dólares. A medida visa aumentar a eficácia das sanções, numa altura em que os preços de mercado já se encontram abaixo desse patamar, anulando o efeito de contenção esperado sobre Moscovo.
A trajectória descendente do petróleo nesta semana reflecte o retorno de factores estruturais de fragilidade: aumento da oferta, incerteza geopolítica, pressão regulamentar e fraca procura global. A eventual decisão da OPEP+ de acelerar a produção poderá acentuar ainda mais este ciclo de desvalorização, num contexto em que os grandes produtores procuram preservar quotas de mercado, mesmo à custa da estabilidade dos preços.
Fonte: O Económico