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O preço do petróleo do tipo West Texas Intermediate (WTI) abriu a semana com forte valorização, sustentado por factores macroeconómicos e geopolíticos que, pela sua natureza disruptiva, se sobrepuseram ao impacto da decisão da OPEP+ de continuar com aumentos graduais de produção. À medida que o risco global se intensifica, os traders mostram-se mais atentos às tensões do que à oferta adicional do cartel.
Na sessão de segunda-feira, os contratos de WTI para entrega imediata subiram mais de 2,5%, atingindo brevemente os 63,25 USD antes de recuarem ligeiramente para os 62,60 USD. Esta dinâmica ocorreu apesar do anúncio, no sábado anterior, por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+), de um novo aumento de 411 mil barris por dia para Julho — o terceiro consecutivo com o mesmo volume.
Segundo fontes citadas pela agência Reuters, os membros da OPEP+ chegaram a considerar um aumento mais expressivo. Contudo, a decisão final foi a de manter a trajectória cautelosa de crescimento da produção, alinhada com as previsões do mercado. Para Harry Tchilinguirian, analista do Onyx Capital Group, essa decisão evitou uma forte correcção nos preços:
“Se tivessem avançado com uma surpresa de aumento mais agressivo, a abertura do mercado na segunda-feira teria sido bastante feia”, alertou o analista à Reuters.
Essa percepção explica a reacção relativamente neutra dos mercados ao anúncio da OPEP+, com os traders a preferirem concentrar-se em factores de risco exógenos, nomeadamente o agravamento das tensões entre Rússia e Ucrânia, e o enfraquecimento do dólar norte-americano, que historicamente impulsiona o preço das commodities cotadas em USD.
Do ponto de vista técnico, o WTI mostra sinais de recuperação de momentum, mas ainda carece de confirmação para um rompimento sustentado. Desde meados de Maio que a média móvel exponencial de 50 dias (62,70 USD) tem funcionado como resistência crítica, limitando o potencial ascendente. O actual movimento ascendente ocorre após múltiplas tentativas falhadas de quebra do suporte dos 60,00 USD, o que sugere uma tentativa dos touros em restabelecer o controlo do mercado.
De acordo com analistas que seguem de perto o desenrolar do sector, a avaliação dos indicadores técnicos reforça a leitura de momentum positivo, mas prudente:
Segundo os analistas da indústria, se o preço do WTI conseguir fechar acima da EMA de 50 dias, há espaço técnico para uma progressão até aos 65,50 USD, um nível que tem servido de resistência desde meados de Abril. Em contrapartida, uma rejeição nesta zona poderá gerar novas ondas de realização de lucros, particularmente entre os traders de curto prazo, e arrastar os preços de volta para os 60,00 USD ou, em caso de maior aversão ao risco, até aos 58,00 USD.
Em suma, os mercados petrolíferos continuam a navegar um delicado equilíbrio entre fundamentais de oferta e procura, riscos geopolíticos e sinais técnicos ambíguos. O actual movimento de valorização do WTI evidencia uma preferência dos investidores por factores de risco global, em detrimento da leitura ortodoxa da oferta, como demonstrado pela reacção limitada à decisão da OPEP+. No curto prazo, o desfecho do actual padrão de consolidação técnica será decisivo para definir se o petróleo continuará a ganhar terreno — ou se recuará uma vez mais face às incertezas externas.
Fonte: O Económico