Pinto da Costa: Homem, mito e lenda!

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Pinto da Costa fez obra no FC Porto

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A história raramente se compadece com os indecisos. Pinto da Costa foi tudo menos isso. Foi audaz, irreverente, genial na forma como moldou, à sua imagem e semelhança, o futebol português e europeu. Criou um Clube que passou da resistência à supremacia, da revolta à glória, com uma convicção férrea e um sentido estratégico de que poucos se podem gabar. Não se limitou a presidir ao FC Porto — refundou-o, pedra sobre pedra, com a certeza inabalável de que só vencem os que ousam reinventar-se.

Não há, em toda a história do futebol mundial, presidente mais titulado. Mas Pinto da Costa não se esgota num registo estatístico. O que o define não é apenas o que ganhou, mas a forma como ganhou. Foi mestre na antecipação, senhor de bastidores, estratega exímio nos detalhes e nos jogos de poder. Criou uma máquina competitiva, sustentada num desígnio inegociável: vencer. E vencer significava lutar em todos os tabuleiros, dentro e fora de campo, com a mesma destreza e com a mesma voracidade. Foi implacável no traçar do caminho e no derrubar de obstáculos. Mas foi também, e por isso mesmo, controverso, capaz de pisar o risco e de, não raras vezes, o transpor.

No seu mundo, a fronteira entre a audácia e a afronta era uma linha ténue, e as regras pareciam, aqui e ali, totalmente secundárias.

Afirmou o FC Porto como o símbolo de um Norte irredutível, cansado do centralismo atávico e asfixiante que Lisboa insiste em impor ao País. Fez do seu FêCêPê uma arma de combate, um bastião contra o domínio de Lisboa, uma trincheira onde a cada vitória se festejava mais do que um título, celebrando-se, em cada vez, um verdadeiro ato de resistência. Fê-lo com génio, com astúcia, com uma intuição e sensibilidade quase infalíveis. Mas fê-lo, também, com dureza, com uma intransigência que não admitia dissidências, nem hesitações. Criou um Porto de combate, um Clube que fazia do conflito um motor e da adversidade um combustível. A sua luta não era apenas contra os adversários no relvado — era contra o sistema, contra os cânones estabelecidos, contra tudo o que lhe parecesse um entrave ao domínio portista.

Pinto da Costa foi amado e odiado, exaltado e vilipendiado, celebrado e temido. Foi mestre nos jogos de sombras e, ao mesmo tempo, um homem frontal, direto e de paixões absolutas. Para uns, um visionário que libertou o futebol português do seu torpor; para outros, um líder que, em nome da vitória, levou, demasiadas vezes, a luta para territórios cinzentos, onde a ética se tornava volátil e a lealdade dependia do lado onde se estava. Mas nunca, em tempo algum, foi ignorado.

Na hora em que parte, fica a obra, titânica, inapagável. Fica, igualmente, a certeza de que o seu legado ultrapassa a sua biografia. O Porto que deixa não é apenas um Clube — é uma identidade, uma cultura, um modo de ser. O tempo encarregar-se-á de o confirmar.

Despedimo-nos de Pinto da Costa, homem, mito e lenda do FC Porto.

Fonte: A Bola

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