Preços do café atingem máximos históricos devido a más colheitas no Brasil e no Vietname

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O preço do café continua a subir, impulsionado por condições climáticas adversas no Brasil e no Vietname, os dois maiores produtores mundiais de grãos de café. No início de Fevereiro, os preços ultrapassaram 4 dólares por libra nos mercados de commodities, atingindo um novo recorde histórico e mais do que dobrando o valor de há um ano.

A alta dos preços terá repercussões diretas para os consumidores, uma vez que o encarecimento dos grãos de café resultará em aumentos no preço final das bebidas à base de café. Além disso, espera-se que o impacto no consumo se torne evidente, com alguns especialistas a preverem uma redução na procura devido ao aumento dos custos.

O último período em que o café tipo arábica — a variedade mais popular no mundo — foi negociado a valores semelhantes remonta a 1977, quando uma nevasca destruiu grande parte das plantações no Brasil.

Até 6 de Fevereiro de 2025, os preços recuaram ligeiramente para 3,97 dólares por libra, mas mantêm-se próximos dos máximos históricos. Economistas e analistas preveem que este abrandamento seja temporário, com projeções de aumento superior a 10% nos próximos meses, prolongando a tendência de valorização ao longo de 2025.

Que fatores estão a impulsionar os preços do café?

A produção de café no Brasil e no Vietname foi severamente afetada por eventos climáticos extremos. No Brasil, as temperaturas elevadas impediram a transformação das flores das árvores de café em bagas, reduzindo significativamente a produção da safra de 2025. Como resultado, os estoques globais de café poderão atingir o segundo nível mais baixo dos últimos 65 anos.

Pavel Cardoso, presidente da Associação da Indústria do Café do Brasil, afirmou que o mercado poderá continuar volátil até a chegada da próxima colheita. A Comexim, uma das maiores exportadoras brasileiras, revelou que espera uma queda na produção de café arábica e robusta para o ciclo de 2025-2026.

A situação é agravada pelo facto de, nos últimos quatro anos, o mundo estar a consumir mais café do que consegue produzir, o que reduziu os estoques globais e tornou o mercado extremamente vulnerável a choques externos.

No Vietname, a produção também foi gravemente afetada por uma seca severa em 2024, que limitou a produtividade das plantações, depois de sucessivos tufões terem danificado as áreas cultivadas.

Para além das dificuldades climáticas, o aumento do consumo global de café nos últimos meses também colocou pressão adicional sobre as cadeias de abastecimento. O crescimento da cultura do café em mercados como a China tem intensificado a procura, enquanto as cadeias de distribuição ainda enfrentam desafios derivados da pandemia e de tensões geopolíticas, como os conflitos no Médio Oriente.

Outro fator que contribui para a incerteza no mercado são as ameaças de novas tarifas da administração Trump sobre países sul-americanos. Em particular, a possibilidade de tarifas sobre a Colômbia, o terceiro maior produtor mundial de café, tem levado os traders de commodities a apostar na continuação da subida dos preços, aumentando a volatilidade do mercado global.

Impacto nos preços para os consumidores

A consequência direta desta conjuntura é que os preços do café no retalho devem aumentar entre 20% e 25% nos próximos meses, segundo o analista de commodities da Bloomberg, Javier Blas.

Por outro lado, existem algumas perspetivas mais otimistas para o médio prazo. De acordo com o analista do Rabobank, Carlos Mera, a subida do preço do café poderá incentivar um aumento da produção nos próximos anos. Além disso, as previsões meteorológicas para as principais regiões produtoras do Brasil apontam para uma melhoria das condições climáticas nas próximas semanas, o que pode contribuir para uma recuperação da oferta em 2025.

O mercado do café enfrenta um cenário desafiante, impulsionado pela conjugação de fatores climáticos adversos, aumento da procura global e incertezas geopolíticas. Embora os preços possam recuar ligeiramente no curto prazo, a tendência aponta para novos aumentos ao longo do ano, pressionando os consumidores e criando incertezas para torrefadoras e distribuidores.

O impacto da situação dependerá das condições climáticas nas principais regiões produtoras, da capacidade dos produtores de ajustarem a sua oferta e das possíveis interferências políticas no comércio internacional de café.

A grande questão agora é: o mercado conseguirá encontrar um equilíbrio ou estaremos a entrar num novo ciclo prolongado de preços elevados?

Fonte: O Económico

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