Os preços do petróleo registaram novos ganhos esta sexta-feira, impulsionados por sinais de distensão comercial entre China e Estados Unidos e pela concretização de um acordo comercial inovador entre Washington e Londres, ao mesmo tempo que persistem incertezas geopolíticas no Médio Oriente e no Sul da Ásia.
Brent e WTI Sustentam Ganhos com Otimismo Moderado
O barril do petróleo Brent avançou 0,37% para 63,07 dólares, enquanto o West Texas Intermediate (WTI) subiu 0,35% para 60,12 dólares, às 07h07 GMT desta sexta-feira, 9 de Maio. Ambos os contratos de referência já haviam fechado a sessão anterior com uma valorização de cerca de 3%.
A subida está directamente relacionada com a aproximação entre os Estados Unidos e a China, que marcaram um encontro de alto nível para este sábado, 10 de Maio, na Suíça, entre o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng. A agenda inclui discussões sobre tarifas e disputas comerciais que têm travado o crescimento da procura global por crude.
Segundo Vandana Hari, fundadora da Vanda Insights, “se os dois países marcarem uma data para negociações formais e concordarem em suspender tarifas durante as conversações, o petróleo poderá subir mais 2 a 3 dólares por barril”.
China Surpreende com Exportações e alivia Tensões
O ambiente de expectativas positivas foi reforçado pelos dados aduaneiros divulgados por Pequim, que revelam crescimento acima do esperado nas exportações chinesas em Abril. As importações, por sua vez, desaceleraram o ritmo de queda, o que sugere uma retoma gradual da actividade comercial da segunda maior economia mundial. Este desempenho poderá sustentar a procura por energia, particularmente petróleo, num momento sensível para os fluxos comerciais globais.
Acordo EUA–Reino Unido Reanima Sentimento de Mercado
Outro factor que animou os mercados foi o anúncio conjunto do Presidente dos EUA, Donald Trump, e do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, sobre um acordo comercial bilateral inovador. A Grã-Bretanha comprometeu-se a reduzir as tarifas sobre produtos americanos para 1,8% (antes 5,1%), enquanto os EUA aliviaram taxas sobre automóveis britânicos, embora mantenham uma tarifa de 10% sobre a maioria dos restantes produtos.
Apesar de o impacto directo sobre os preços do petróleo ser limitado, o gesto simbólico fortalece a narrativa de um ambiente comercial mais previsível entre aliados estratégicos, num momento em que os mercados globais enfrentam múltiplos focos de incerteza.
Geopolítica Agrava Pressões no Médio Oriente e Sul Asiático
Do lado da oferta, as sanções impostas por Washington a duas refinarias chinesas por alegada compra de petróleo iraniano contribuíram para restringir o acesso a crude, levando as empresas visadas a vender o produto sob identidades comerciais alternativas. Este cenário poderá intensificar a escassez de oferta de petróleo iraniano no mercado global, pressionando os preços em alta.
Simultaneamente, a OPEP+ enfrenta novos dilemas. Apesar dos planos de aumento da produção, os números de Abril revelam uma diminuição na produção total da OPEP, resultado de declínios na Líbia, Venezuela e Iraque, que compensaram aumentos noutros membros.
No Sul da Ásia, as forças armadas do Paquistão lançaram ataques na fronteira com a Índia, agravando a tensão entre os dois países com arsenal nuclear. Analistas da Rystad Energy alertam que a procura por gasóleo poderá crescer com o aumento da mobilização militar, enquanto o consumo de combustível para aviação tende a cair devido a restrições no espaço aéreo e aumento dos preços de passagens.
Dados de Procura: Índia vs. Paquistão
Segundo estimativas da Rystad, a Índia consome 5,4 milhões de barris por dia (bpd), ao passo que o Paquistão consome cerca de 250 mil bpd. Embora o impacto absoluto do Paquistão seja marginal, o potencial de disrupção regional é um factor a monitorizar dada a posição geopolítica da região.
Perspectivas a Curto Prazo: Petróleo Entre Expectativas e Volatilidade
A trajectória futura dos preços dependerá em grande medida do resultado da reunião entre EUA e China e da evolução das frentes geopolíticas abertas. A retoma do diálogo comercial, combinada com ajustes na produção da OPEP e perturbações de oferta associadas às sanções e conflitos, colocam o mercado petrolífero num equilíbrio frágil entre optimismo e volatilidade.
Fonte: O Económico