Resumo
A região do Médio Oriente e Norte de África (MENA) está a passar por uma transição energética devido ao aumento significativo da procura elétrica, que se espera que cresça 50% até 2035. Este crescimento traz desafios como urbanização, clima extremo e escassez de água, mas também oportunidades para energias renováveis e exportação de hidrogénio verde. Países como Marrocos destacam-se na adoção de energias limpas, enquanto o Egipto aposta na energia nuclear e no hidrogénio verde. A modernização das redes elétricas e a criação de interconexões regionais são vistas como soluções essenciais para reforçar a segurança energética. A região enfrenta desafios sociais devido a desigualdades no acesso à energia. O crescimento exponencial da procura elétrica requer uma expansão sem precedentes, com implicações económicas e sociais significativas para os países africanos.
Desenvolvimento
Desde o ano 2000, a procura de electricidade na região MENA triplicou, com um aumento superior a 1.000 TWh. A África do Norte tem estado no centro desta transformação. Países como Egipto, Marrocos, Argélia e Tunísia enfrentam não só uma pressão demográfica e urbana, como também os efeitos do aumento acelerado das temperaturas e da escassez de água – a região é hoje uma das mais vulneráveis ao stress hídrico a nível mundial.
A dessalinização já é responsável por volumes significativos de consumo de energia, e deverá triplicar até 2035. Só em 2024, os países da região produziram 12 mil milhões de metros cúbicos de água dessalinizada, o equivalente ao caudal anual do rio Eufrates. No continente africano, Egipto, Marrocos e Argélia são os países que mais dependem desta tecnologia para assegurar abastecimento de água.
No sector energético, o peso dos combustíveis fósseis ainda é esmagador: gás natural e petróleo representaram mais de 90% da geração eléctrica em 2024. No entanto, há sinais de diversificação. O Marrocos destaca-se como líder africano em energias renováveis, com mega-projectos solares (Noor Ouarzazate) e eólicos, visando cobrir até 50% da sua produção eléctrica com fontes limpas até 2030. Já o Egipto aposta no nuclear, com a construção da central de El Dabaa, e no hidrogénio verde como nova frente de exportação energética. A Argélia, grande produtora de gás, procura equilibrar o uso interno com as receitas de exportação, mas enfrenta o dilema de modernizar redes e reduzir subsídios que incentivam consumos elevados.
O relatório da IEA sublinha que a expansão das redes eléctricas é essencial. Actualmente, as perdas de transmissão e distribuição na região são o dobro da média mundial, comprometendo a eficiência dos sistemas eléctricos. Para África do Norte, a modernização das redes e a criação de interconexões regionais – incluindo ligações com a Europa através do Mediterrâneo – são vistas como soluções estratégicas para reforçar a segurança energética e abrir novos mercados de exportação.
A procura crescente também levanta desafios sociais. O consumo per capita ainda é desigual entre países africanos do Norte e as nações do Golfo, expondo falhas de acesso e de equidade energética. Melhorar a eficiência dos aparelhos eléctricos pode ser uma resposta rápida: só com a modernização do parque de ar condicionados, seria possível reduzir a procura de pico em mais de 35 GW até 2035 – o equivalente à capacidade eléctrica total actual do Iraque.
Segundo Fatih Birol, director executivo da IEA, “a região já registou o terceiro maior crescimento do consumo de electricidade a nível mundial desde o início do século. Para satisfazer esta procura, será necessária uma expansão sem precedentes, com implicações não apenas para os mercados globais, mas também para a estabilidade económica e social dos países africanos”.
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p style=”margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial”>Se as metas de diversificação energética forem atingidas, África do Norte poderá emergir como um hub energético regional, integrando renováveis, nuclear e hidrogénio verde, e reduzindo vulnerabilidades ligadas à dependência de petróleo e gás. Caso contrário, o risco é de aumento da factura de importações energéticas, redução de receitas de exportação e agravamento de desigualdades sociais.
Fonte: O Económico