Uma em cada vinte pessoas já tentaram suicídio no país. Para a psicóloga Nícia Dzimba, estes números são preocupantes, daí que apela à população a dar maior atenção à saúde mental. Dzimba também chama atenção aos pais para reflectirem no tipo de mimos que dão aos filhos, sob riscos de deseduca-los, no lugar de educar.
O inquérito nacional de prevalência de factores de risco para doenças crónicas não transmissíveis concluiu que cerca de 7,3 por cento de moçambicanos adultos já contemplaram o suicídio, outros 4,3 por cento fizeram um plano de suicídio.
Para a psicóloga Nicia Dzimba existem vários factores por detrás da situação e muitos têm estado a ignorar os sinais de depressão.
“O que está por detrás do suicídio pode ser a depressão, mas também pode ser uma frustração repentina por alguma insatisfação ou por alguma pressão e que o indivíduo naquele momento não consegue gerir e acaba tirando a sua própria vida”, disse.
Mas há mais: falando mais sobre depressão, que é a maior causa de suicídio, Nícia Dzimba diz que “as pessoas infelizmente, hoje em dia, normalizam muito o que não se pode normalizar. Estou a falar de comportamentos anormais que as pessoas começam a identificar, a demonstrar quando as pessoas têm depressão. Hoje em dia nós falamos de depressão e confundimos muito depressão e tristeza”.
Outrossim, segundo a psicóloga, “as pessoas pensam que a pessoa está um bocadinho para baixo, isso não é nada, vai passar. Não é sobre isso. A tristeza é passageira por várias causas, nós ficamos tristes, mas em pouco tempo nós conseguimos lidar com isso e ultrapassamos, mas a depressão não, a depressão é um transtorno de humor grave”.
Outro ponto crítico é o aumento dos casos de transtornos de ansiedade entre crianças e adolescentes. Nícia Dzimba destaca que, nestes casos, o papel dos pais é ainda mais determinante.
“Está a haver uma fraqueza dos pais em preencher o vazio das crianças e demonstrar os seus papéis como devem ser nas casas, porque nós vamos ver que uma mãe tem lá a sua criança de um, dois anos, porque quer fazer as tarefas e a criança está perturbada, a mãe vai fazer o quê, coloca o desenho animado no celular”, detecta.
Para Nícia Dzimba, ao fixar-se naquela tela “nós vemos uma criança que do nada começa a passar tudo, então estamos ensinando àquela criança que o mundo é feito de fantasias, que é feito de cores e que essas cores nós podemos mudar sempre que nós quisermos”.
Nos adultos, as redes sociais também têm sido uma preocupação. A psicóloga observa um comportamento cada vez mais frequente: pessoas que se reúnem fisicamente, mas preferem interagir com outras através do telefone.
Fonte: O País