Resumo
A queixa de Albino Forquilha, líder da oposição em Moçambique, sobre a falta de regalias pessoais, como passaporte diplomático e viatura com motorista, destaca a desconexão dos políticos com as necessidades do povo. Enquanto Forquilha reclama benefícios, como residência oficial e assistência médica, milhares de moçambicanos enfrentam desemprego, fome e falta de serviços básicos. A prioridade dada às regalias pessoais em vez das condições da população revela uma inversão de valores preocupante. A ética na política moçambicana necessita de uma mudança, com os líderes a colocar o povo no centro das preocupações. Forquilha pode reivindicar os seus direitos, mas deve lembrar-se que o verdadeiro poder político está na confiança do povo e na capacidade de representar os mais vulneráveis. É essencial menos foco em regalias e mais esforço em promover igualdade, dignidade e desenvolvimento para o país.
Por muito que se queira disfarçar, a política em Moçambique continua a revelar uma triste realidade: muitos dos que dizem lutar pelo povo mal chegam ao poder ou ganham algum protagonismo, mostram que a prioridade não é o povo. A recente queixa de Albino Forquilha, presidente do PODEMOS e líder do maior partido da oposição no Parlamento, é um claro exemplo de como, em vez de colocar as necessidades do cidadão comum em primeiro plano, o foco está nas regalias pessoais.
Passados nove meses desde o início da actual legislatura, Forquilha tem vindo a manifestar descontentamento pelo facto de ainda não estar a usufruir das benesses previstas no Estatuto do líder da oposição. Entre os privilégios listados e reclamados encontram-se passaporte diplomático para si e para a família, segurança, viatura com motorista e combustível, residência oficial, assistência médica para o agregado familiar, entre outros luxos pagos pelo erário público.
Mas o que choca não é o facto de estas regalias estarem previstas por lei. O que incomoda é a prioridade dada ao assunto. Enquanto milhares de moçambicanos enfrentam o desemprego, a fome, o colapso do sistema de saúde, a insegurança e um nível de vida cada vez mais degradante, o líder da oposição está mais preocupado com a sua viatura e com o combustível do que com as condições das populações que diz representar.
A pergunta impõe-se: será que Albino Forquilha se deu ao trabalho de visitar hospitais sem medicamentos, escolas sem carteiras, bairros sem água potável ou jovens sem perspectivas? Será que, ao invés de exigir transparência, boa governação e justiça social, como se espera de quem lidera a oposição, prefere centrar o debate político nas regalias que ele ainda não recebeu?
Quando um líder se foca mais na sua barriga do que no bem-estar do povo, há uma inversão perigosa de prioridades. Ele quer “comer” sozinho, quer ser servido antes de servir. E isso é tudo aquilo que o país já não pode continuar a tolerar. A política em Moçambique precisa de uma viragem ética profunda, em que os representantes, sejam do poder ou da oposição, coloquem o povo no centro das suas acções e preocupações.
Forquilha pode, sim, reclamar os seus direitos legais, mas não pode esquecer que o verdadeiro poder de um político reside na confiança do povo e na sua capacidade de representar aqueles que não têm voz. Se não estiver preocupado com a barriga vazia do povo, então a sua própria barriga cheia não se justifica.
No fim das contas, os moçambicanos querem menos políticos a exigir regalias e mais líderes a lutar por igualdade, dignidade e desenvolvimento. A barriga de um homem nunca pode pesar mais do que o sofrimento de uma nação inteira.