Resumo
Um artigo da Revista Tempo levantou preocupações sobre a suspensão das atividades mineiras em Manica, devido a uma mina que continuava a operar apesar da ordem de encerramento, alegadamente ligada a familiares da governadora. O Governo decidiu levantar gradualmente a suspensão, permitindo o regresso de empresas que não exploram ouro e estão em conformidade com as leis ambientais. A justificação foi a proteção de empregos e a continuidade de atividades económicas essenciais. No entanto, persistem preocupações sobre a poluição dos rios e a falta de garantias de fiscalização eficaz e avaliações ambientais independentes. Comunidades locais continuam desconfiadas da retoma das atividades sem medidas concretas para resolver problemas ambientais pré-existentes.
Há pouco mais de um mês, um artigo publicado pela Revista Tempo suscitou um debate incómodo, mas necessário: a suspensão das actividades mineiras em Manica e a distância inquietante entre o decreto governamental e a realidade no terreno. O texto expunha denúncias de que uma mina, alegadamente ligada a familiares da governadora da província, continuava a operar apesar da ordem de encerramento, num contexto marcado pela degradação ambiental e pela contaminação de rios utilizados pelas comunidades locais.
Um mês depois, o cenário altera-se significativamente. O Governo decidiu levantar, de forma gradual, a suspensão da actividade mineira em Manica, permitindo o regresso das empresas que não exploram ouro e que, segundo as autoridades, se encontram em conformidade com as obrigações legais e ambientais. A decisão, tomada na 42.ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros foi justificada com a necessidade de proteger postos de trabalho e assegurar a continuidade de actividades económicas consideradas essenciais para a província.
À primeira vista, o argumento é compreensível. Numa região onde o emprego é escasso e a economia local depende fortemente da exploração de recursos naturais, qualquer interrupção prolongada acarreta custos sociais evidentes. No entanto, a questão central permanece praticamente intacta: que garantias reais há de que a retoma da actividade não agravará problemas que já eram graves antes da suspensão? A poluição dos rios, denunciada por agricultores e moradores, não se resolve por decreto nem por promessas genéricas de conformidade ambiental.
É precisamente aqui que o debate ganha contornos mais delicados. Levantar a suspensão sem apresentar resultados claros de fiscalização eficaz e sem tornar públicas avaliações ambientais independentes alimenta a desconfiança das comunidades. Para quem depende da água dos rios para beber, cozinhar e regar os campos, a decisão governamental pode ser lida não como um sinal de normalização, mas como a aceitação tácita de um risco contínuo à saúde e ao futuro da agricultura local.
Não se trata de rejeitar a mineração em absoluto nem de ignorar a importância económica do sector. Trata-se, isso sim, de reconhecer que o desenvolvimento não pode assentar num equilíbrio precário em que o emprego de hoje compromete a água de amanhã. Quando a população continua a consumir água potencialmente contaminada por substâncias químicas, a pergunta impõe-se com naturalidade: quem, afinal, está a pagar o verdadeiro custo desta retoma?






