Ritos de Iniciação: Tradição ou Trauma?

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Por: Gelva Aníbal

 

Em muitas comunidades moçambicanas, os ritos de iniciação continuam a ser um marco de transição da infância para a vida adulta.

Para uns, é um símbolo de honra e identidade cultural, para outros, um processo marcado por dor, medo e, por vezes, abuso.

Onde é traçada a linha entre a preservação da tradição e a perpetuação do trauma?

Os ritos de iniciação são, há gerações, práticas que transmitem valores, regras sociais e noções de masculinidade ou feminilidade.

Em algumas comunidades, representam a ligação espiritual com os antepassados e o reforço do sentido de pertença. Meninas aprendem a ser “mulheres”, rapazes são “formados” como homens.

Por tanto, muitas dessas práticas envolvem violência simbólica e física, mutilações, isolamento, repressão emocional, e ensinamentos que reforçam estereótipos de género.

Crianças são submetidas a longos períodos fora de casa, privadas de contacto com a família e expostas a riscos à saúde física e mental.

Estudos e relatos de sobreviventes mostram que, muitos jovens saem desses ritos marcados por medo, confusão e, em alguns casos, com traumas psicológicos duradouros. A ausência de acompanhamento psicológico ou apoio emocional apenas agrava o impacto.

Onde estão as autoridades locais?

Que políticas públicas existem para regulamentar ou monitorar estas práticas?

O debate sobre os ritos de iniciação precisa sair da esfera do tabu e entrar no campo da reflexão ética e dos direitos humanos, sem desrespeitar as raízes culturais.

Muitos especialistas defendem que os ritos podem ser adaptados, manter a componente educativa, espiritual e cultural, mas eliminar práticas lesivas ou desumanas. A modernização da tradição não é negação da identidade é evolução.

contudo, manter viva a cultura é essencial, mas não podemos usar o manto da tradição para justificar práticas que ferem a dignidade humana.

Rito ou trauma? A resposta está no equilíbrio entre o respeito pelas raízes e o compromisso com os direitos das novas gerações.

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