O risco de os jogadores contraírem lesões tende a ser maior devido à elevada carga competitiva e à consequente redução do tempo de descanso e recuperação entre os jogos, defendeu o médico e presidente da Associação Nacional de Médicos do Futebol (AMEF), João Pedro Mendonça.
«Quanto mais competição houver, vai propiciar uma maior probabilidade de haver lesões. Ultimamente, tem-se notado que há uma maior quantidade de jogos. Se calhar, está na altura de pararmos um bocadinho e ponderarmos a repercussão desse aumento enorme na integridade física dos atletas», frisou à agência Lusa o médico, em entrevista publicada esta terça-feira.
Alguns clubes dos principais campeonatos europeus estiveram condicionados com mais ou menos gravidade pelas lesões na primeira metade da época, entre os quais Manchester City, Arsenal, Real Madrid, Barcelona, Bayern Munique, Leipzig, Borussia Dortmund, Atalanta, Juventus, Milan e Sporting.
«[O desgaste] Tem um efeito cumulativo de ano para ano. Mais cedo ou mais tarde, muito provavelmente um jogador que teve menos férias em anos seguidos poderá estar mais propenso a sofrer uma lesão, nomeadamente muscular e não tanto traumática», avaliou, crendo que as equipas técnicas «têm de dar cada vez mais ênfase à recuperação do que propriamente ao treino» quando há elevada densidade competitiva.
O exemplo de Ronaldo… mas «cada caso é um caso»
Mendonça acrescentou que o estilo de vida de cada jogador também influencia na questão das ocorrências clínicas. E deu o exemplo de Cristiano Ronaldo.
«Cristiano Ronaldo é o exemplo personificado de um atleta que sempre se preparou a todos os níveis e com pormenor para evitar lesões. Agora, cada caso é um caso. Estou a lembrar-me daqueles que têm um comportamento compatível com a atividade desportiva, mas, infelizmente, por várias vicissitudes, lesionam-se», disse o vice-presidente e diretor clínico do Nacional, que não tem dados relativos aos custos dos clubes com as lesões numa época, mas avisa que as consequências de um ativo estar parado dependem da sua influência e da extensão do problema em questão.
«É verdade que estes trabalhadores têm regalias e um ordenado diferente da maioria do cidadão comum, razão pela qual, se calhar, a entidade patronal julga-se no direito de exigir mais. Mesmo assim, três semanas de férias por ano seria o correto em termos laborais. Os atletas de elite, que fazem parte das seleções e dos clubes que estão a ter este incremento de jogos, ficam ultimamente com menos tempo de descanso. Esse tempo não devia ser descurado, até porque é importante, não só como merecimento do trabalhador, mas para precaver lesões e cuidar melhor do seu físico e da saúde», avisou.
Em virtude da «exagerada carga competitiva» do calendário internacional, a Associação de Ligas Europeias, liderada por Pedro Proença, igualmente presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) e candidato às eleições da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), e a Federação Internacional de Associações de Futebolistas Profissionais (FIFPro) apresentaram há três meses uma queixa na Comissão Europeia contra a FIFA.
Será ainda debatida pela AMEF em outubro, no primeiro Congresso Ibérico, coorganizado com a congénere de Espanha, a densidade competitiva e as consequentes lesões, onde médicos, dirigentes e atletas debaterão sobre o tema.
Fonte: Mais Futebol