Resumo
A crise na saúde pública em Maputo e noutras regiões de Moçambique atingiu um ponto crítico, com falta de reagentes e medicamentos básicos nas unidades de saúde. Esta situação, denunciada pela Revista Tempo, revela falhas logísticas e indiferença institucional. Pacientes são enviados para casa sem diagnóstico ou tratamento, num cenário de dor e impotência. A responsabilidade recai sobre os gestores de saúde, acusados de operar como uma "gangue" burocrática, alheia ao sofrimento dos cidadãos. A falta de comunicação oficial e de medidas corretivas evidencia uma cultura de impunidade e desprezo pela vida. O Hospital Central de Maputo prometeu uma conferência de imprensa para esclarecer a crise, mas esta nunca aconteceu, aumentando a sensação de negligência das autoridades de saúde.
A crise na saúde pública da Cidade de Maputo e, possivelmente, em outras regiões do país já ultrapassa o limite do aceitável. A falta de reagentes nas unidades sanitárias (e de medicamentos básicos), denunciada há meses pela Revista Tempo, permanece sem solução, revelando não apenas falhas logísticas, mas também uma preocupante indiferença institucional.
Em nova visita aos hospitais, a reportagem encontrou um cenário de paralisia e silêncio. Não se trata apenas de uma crise técnica: é uma negligência que desumaniza. Pacientes são obrigados a regressar às suas casas sem diagnóstico, sem tratamento, sem sequer saber que doença os aflige. A dor, a fome e a impotência tornaram-se rotina, e tudo sob o olhar indiferente de quem deveria garantir o funcionamento básico do sistema (diz a velha máxima de quem não prove saúde e educação à sua população não merece estar onde está).
A responsabilidade recai sobre os gestores das UGEAS e outros órgãos que, longe de demonstrar sensibilidade, parecem operar como uma “gangue” burocrática (quiçá criminosa), alheia ao sofrimento real das pessoas. A crítica é dura, mas necessária: como podem ignorar que os utentes que são filhos, pais, avós (talvez até familiares seus) que enfrentam o mais alto grau de vulnerabilidade?
A ausência de comunicação oficial, a falta de medidas correctivas e o silêncio prolongado das autoridades configuram mais do que uma má gestão: revelam uma cultura de impunidade e desprezo pela vida. A saúde pública, neste contexto, deixa de ser prioridade e transforma-se em estatística fria, na qual o sofrimento humano é invisibilizado.
Na primeira abordagem, o Hospital Central de Maputo comprometeu-se a realizar uma conferência de imprensa para esclarecer os motivos da crise. A promessa, no entanto, nunca se concretizou. Passadas várias semanas, não houve qualquer comunicação oficial, alimentando a sensação de negligência por parte das autoridades de saúde.
Em nova ronda pelas unidades sanitárias, a reportagem ouviu utentes que confirmam que os exames bioquímicos continuam suspensos devido à falta de reagentes específicos. Muitos relatam que a situação se tornou “rotineira”, sem previsão de normalização. Uma fonte anónima esclareceu que, embora os hemogramas ainda sejam realizados, os reagentes para exames bioquímicos não têm sido fornecidos com regularidade, um problema técnico que se transforma, dia após dia, em uma falha estrutural.
A tentativa de obter esclarecimentos junto ao Serviço de Saúde da Cidade de Maputo também resultou infrutífera. A directora da instituição encontrava-se ausente em missão de serviço (os passeios institucionais), e nenhum outro responsável se dispôs a prestar informações.
A ausência de respostas públicas e de medidas concretas suscita sérias dúvidas sobre a capacidade de gestão das autoridades competentes. Dois meses após as primeiras denúncias, os hospitais continuam a operar com limitações graves, comprometendo o direito básico da população ao acesso a cuidados de saúde dignos e eficazes.
A pergunta que persiste é simples e urgente: quem responde por isso? E até quando a população será obrigada a suportar um sistema que falha justamente onde deveria proteger?






