Resumo
O Briefing do Final de Ano da CTA em Moçambique destacou a resiliência empresarial, fragilidades estruturais persistentes e expectativas cautelosas para 2026. Num contexto condicionado por manifestações pós-eleitorais de 2024 e escassez de divisas, a reunião contou com empresários, Governo e mercado financeiro. A análise apontou para um crescimento económico contido a nível mundial, com a região da SADC a enfrentar uma recuperação lenta. A economia moçambicana mostra sinais de recomposição após o choque político-social de 2024, com a inflação a subir temporariamente. O crescimento do crédito ao Governo levanta preocupações sobre o crowding out. A CTA apelou à aceleração das reformas estruturais para impulsionar o investimento privado, num ambiente marcado pela prudência e sentido crítico.
O Briefing do Final de Ano da CTA juntou empresários, Governo e mercado financeiro num balanço marcado por resiliência empresarial, fragilidades estruturais persistentes e expectativas cautelosas para 2026.
Resiliência Empresarial Num Ano Atípico
Num contexto ainda condicionado pelos efeitos das manifestações pós-eleitorais de 2024, pela escassez de divisas e por constrangimentos estruturais persistentes, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) reuniu, no dia 17 de Dezembro, em Maputo, empresários, decisores públicos e representantes do sistema financeiro no seu tradicional Briefing do Final de Ano.
O encontro serviu para avaliar o desempenho económico de 2025, analisar o ambiente empresarial e traçar perspetivas para 2026, num exercício marcado por prudência, sentido crítico e um apelo claro à aceleração das reformas estruturais necessárias para destravar o investimento privado.
Enquadramento Internacional Continua a Pressionar Economias Emergentes
A leitura apresentada pela CTA partiu de um enquadramento internacional moderadamente adverso. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional, a economia mundial mantém um crescimento contido, com sinais de desaceleração em 2026, enquanto a região da SADC enfrenta uma recuperação lenta após a quebra registada em 2024.
A inflação regional, embora ainda elevada, começa a dar sinais de abrandamento, abrindo algum espaço para políticas monetárias menos restritivas, ainda que o contexto global continue a exigir prudência.
Economia Nacional Entre Estabilização e Novos Riscos
No plano interno, os indicadores macroeconómicos revelam uma economia em processo de recomposição após o choque político-social do último trimestre de 2024. A inflação, que vinha numa trajectória descendente, voltou a subir após as manifestações, interrompendo temporariamente o processo de estabilização.
Em paralelo, o crescimento do crédito líquido ao Governo levanta preocupações quanto ao efeito de crowding out, num momento em que as empresas enfrentam dificuldades acrescidas de acesso ao financiamento bancário. Apesar da redução gradual das taxas de juro, o crédito produtivo continua limitado.
A estabilidade cambial, embora positiva do ponto de vista da previsibilidade, tem impactos negativos sobre os exportadores, sobretudo devido à obrigatoriedade de conversão de receitas em moeda nacional num contexto de escassez de divisas.
Ambiente Empresarial Ainda Abaixo do Potencial
O Índice de Ambiente Macroeconómico da CTA confirma este quadro de recuperação contida. Após uma queda acentuada no final de 2024, o indicador registou uma ligeira melhoria em 2025, mas permanece em níveis ainda distantes do desejável.
Entre o segundo e o terceiro trimestre de 2025, as empresas continuaram a operar com prejuízos médios, apesar de uma melhoria marginal face ao trimestre anterior. Custos e receitas cresceram de forma insuficiente para restaurar margens de rentabilidade, mantendo o Índice de Robustez Empresarial abaixo dos níveis pré-manifestações.
Desempenho Sectorial Desigual e Assimetrias Regionais
A análise sectorial evidencia dinâmicas diferenciadas. Agricultura, indústria e turismo registaram uma recuperação tímida, enquanto o sector dos transportes apresentou maior dinamismo, ainda que pressionado por custos logísticos e de manutenção.
O turismo destacou-se como um dos sectores mais resilientes, beneficiando da retoma gradual da mobilidade e da procura nos principais centros urbanos. A indústria, por sua vez, continua a enfrentar custos elevados e fraco impacto das medidas de recuperação.
Do ponto de vista regional, os índices de robustez empresarial permanecem muito abaixo do nível considerado óptimo. Algumas províncias com forte base agrícola registaram melhor desempenho, enquanto outras, como Tete, apresentaram uma deterioração acentuada, com impacto directo no emprego e no investimento local.
Mercado de Capitais Como Alternativa de Financiamento
O mercado de capitais foi outro eixo central do debate. O administrador executivo da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM), Alcino Michaque, reconheceu que a Bolsa foi fortemente afectada pelo choque económico do final de 2024 e início de 2025, com redução da capitalização bolsista, do volume de negócios e do número de empresas cotadas.
Ainda assim, sublinhou o papel da BVM como mecanismo alternativo de financiamento, sobretudo através do mercado de dívida, que permitiu mobilizar cerca de 4,2 mil milhões de meticais para o Estado e para o sector privado ao longo de 2025. A estratégia futura aposta na modernização tecnológica, no reforço do quadro legal e no desenvolvimento de novos produtos, incluindo obrigações verdes, azuis e sociais.
Governação Económica e o Dossiê Mozal
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p style="margin-top: 0in;text-align: justify;background-image: initial;background-position: initial;background-size: initial;background-repeat: initial;background-attachment: initial">No plano institucional, o presidente da CTA, Álvaro Massingue, destacou a resiliência do sector privado num dos períodos mais exigentes da economia nacional, bem como o reforço do diálogo público-privado
O dossiê Mozal foi um dos pontos mais sensíveis do encontro, com a Confederação a defender uma solução negociada, previsível e sustentável que evite o encerramento de um activo estratégico para a economia nacional, salvaguarde o emprego e fortaleça a industrialização e o conteúdo local.
Governo Reitera Compromisso Com Reformas
Em representação do Governo, Nicolau Sululo reiterou o compromisso do Executivo com a melhoria do ambiente de negócios, destacando medidas em curso, como a operacionalização do Fundo de Garantia Mutuária, a revisão do IVA, a criação de fundos de recuperação e desenvolvimento económico local e o apoio ao agronegócio.
O Governo reconhece 2025 como um ano atípico, mas defende que as reformas anunciadas são irreversíveis e que a institucionalização do diálogo público-privado será uma prioridade em 2026.
Perspectivas Cautelosas Para 2026
O Briefing do Final de Ano da CTA deixa uma mensagem equilibrada: há sinais de recuperação e instrumentos em construção, mas os riscos permanecem elevados. A economia moçambicana deverá crescer entre 2,1% e 2,8%, com perspectivas de melhoria em 2026, desde que se avancem reformas estruturais, se alivie a escassez de divisas, se reduza a pressão do endividamento interno e se reforce a previsibilidade das políticas públicas.
Para o sector privado, o desafio é claro: transformar resiliência em crescimento sustentável, num ambiente que exige confiança, diálogo e decisões estratégicas de médio e longo prazo.
Fonte: O Económico






