Questões-Chave:
Apesar dos desafios macroeconómicos e choques climáticos, o sistema financeiro doméstico manteve-se estável, com indicadores robustos de capitalização e liquidez. Contudo, o ritmo de crescimento desacelerou em 2024, com sinais de pressão sobre a qualidade dos activos e sobre a rendibilidade bancária.
O sistema financeiro moçambicano viu o seu crescimento abrandar para 1,22% em 2024, face aos 4,58% em 2023, de acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira – Junho de 2025. A travagem foi acompanhada por um contexto de choques internos e externos, entre os quais se destacam os efeitos das tensões pós-eleitorais e dos eventos climáticos extremos.
Mesmo com esta desaceleração, o sector bancário manteve níveis de solvabilidade (26,11%) e liquidez (49,64%) confortáveis, com os bancos sistemicamente importantes (D-SIBs) a deterem quotas dominantes no mercado.
Contudo, a rendibilidade caiu, com o ROA a baixar de 4,66% para 3,38% e o ROE de 19,11% para 13,91%. Esta contracção nos resultados (menos 21,99%) deveu-se ao aumento dos custos operacionais, especialmente com pessoal, e à subida das perdas por imparidade.
Crédito malparado em alta
A deterioração da qualidade dos activos é uma das preocupações centrais: o rácio de NPL agravou-se de 8,24% para 9,32%, mantendo-se acima do limite de referência (5,00%). A cobertura dos créditos em incumprimento caiu para 60,29%.
Os sectores com maior incumprimento incluem a agricultura (16,14%), transportes e comunicações (14,27%) e comércio (11,02%). A agricultura, apesar de representar apenas 5,25% do stock de NPL, continua a evidenciar alto risco, devido à sua exposição às mudanças climáticas.
Menor intermediação financeira e maior liquidez
O rácio de transformação caiu de 44,90% para 40,82%, reflectindo uma menor intermediação financeira e uma maior orientação dos bancos para activos líquidos e de menor risco. Os depósitos continuam a ser a principal fonte de financiamento (mais de 83% do passivo), dos quais 78,54% estão denominados em moeda nacional.
Concentração elevada
Os três D-SIBs — BCI, BIM e Standard Bank — continuam a dominar:
O índice de Herfindahl-Hirschman mantém-se em níveis moderados, revelando alguma competição, embora a concentração se mantenha.
Fonte: O Económico