Trump activa nova ofensiva tarifária China na linha de fogo com taxas de até 104%

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Às portas da implementação de um novo e vasto pacote tarifário, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou nas últimas horas os contactos com aliados estratégicos numa tentativa de mitigar os efeitos colaterais do seu plano proteccionista. No entanto, com relação à China, o tom manteve-se desafiante, ao anunciar tarifas que poderão atingir os 104% sobre produtos chineses – uma medida sem precedentes na actual conjuntura económica mundial.

As novas tarifas, que deverão entrar em vigor a partir da meia-noite (hora de Nova Iorque), integram uma série de medidas anteriormente justificadas por motivos como a crise do fentanil, o desequilíbrio comercial e a retaliação contra acções de Pequim. O pacote engloba ainda uma componente adicional anunciada após a China ter sinalizado a sua intenção de aplicar tarifas sobre exportações dos EUA.

As tarifas punitivas à China e a tempestade económica: Wall Street reage com críticas severas

Ao iniciar oficialmente uma nova fase da sua política comercial implementando tarifas de até 104% sobre produtos chineses, alegando defesa da economia americana, reciprocidade comercial e resposta à crise do fentanil, medida, que entrou em vigor após a meia-noite, integrando um vasto pacote tarifário com impacto em mais de 60 parceiros comerciais, incluindo 25% sobre produtos sul-coreanos e 34% sobre mercadorias chinesas, com sobrecargas adicionais em sectores-chave como tecnologia, construção naval e gás natural liquefeito, O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou efectivamente a guerra comercial.

A decisão foi tomada apesar de intensas negociações de última hora com aliados estratégicos como o Japão, a Coreia do Sul, Israel e a Itália, cujos líderes tentaram convencer Trump a moderar a sua postura. A Coreia do Sul, por exemplo, iniciou conversações sobre tarifas e a expansão da compra de gás dos EUA, enquanto a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, prepara-se para visitar Washington com o mesmo objectivo.

“Temos os limites e a probabilidade de um grande NEGÓCIO para ambos os países”, escreveu Trump sobre a Coreia do Sul. “Estamos a negociar com muitos outros países — todos querem fazer acordo com os Estados Unidos.”

China ignora chamadas e promete retaliar

Apesar das tentativas públicas do Presidente Trump de incentivar um diálogo com Pequim — incluindo declarações de que “a China também quer muito fazer um acordo” —, o Governo chinês manteve-se firme. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou:

“As guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores. O proteccionismo não leva a lugar algum. A China não é criadora de problemas, mas não hesitará em responder.”

A ausência de uma resposta chinesa efectiva transformou a disputa num impasse económico e diplomático, com potencial de afectar as cadeias globais de fornecimento e as relações comerciais multilaterais.

Ken Griffin e Wall Street reagem: ‘grande erro político’

As reacções nos mercados financeiros e entre os líderes de Wall Street foram imediatas. Ken Griffin, bilionário fundador da Citadel e um dos maiores financiadores do Partido Republicano, condenou veementemente as tarifas, alertando que os maiores prejudicados serão as famílias da classe média americana.

“Não é correcto dizer a uma família que ganha 50 mil dólares por ano que vai pagar 30% ou 40% a mais por alimentos, electrodomésticos ou um carro novo”, disse Griffin.
“Mesmo que os empregos regressem, isso levará décadas, não semanas.”

Griffin, que tem uma fortuna estimada em 41,8 mil milhões de dólares, apelou publicamente à contenção, afirmando que os EUA arriscam abandonar o seu papel de liderança global num momento de crescente fragmentação internacional. Outros nomes de peso, como Jamie Dimon (JPMorgan Chase) e Bill Ackman, também expressaram preocupação. Ackman alertou para um “inverno nuclear económico” caso as medidas não sejam revistas.

Divisões internas e ruído na Casa Branca

A administração Trump está longe do consenso interno. O conselheiro Elon Musk, num post nas redes sociais, classificou Peter Navarro, arquitecto das tarifas, como “idiota”, revelando divisões abertas entre os principais assessores.

Ainda assim, o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, confirmou que as tarifas “entram em vigor” e estão a ser conjugadas com negociações rápidas com os parceiros. “Se alguém tiver uma ideia melhor para alcançar a reciprocidade e reduzir o nosso défice comercial, estamos abertos a ouvir”, disse no Congresso.

Kevin Hassett, director do Conselho Económico Nacional da Casa Branca, reforçou que os aliados — e não a China — serão prioridade nas negociações.

 

Impacto global e riscos estratégicos

Os efeitos imediatos já se fazem sentir: o S&P 500 e o Nasdaq 100 registaram oscilações violentas. A médio prazo, analistas alertam para o agravamento do custo de vida nos EUA, a erosão da confiança dos aliados, o aumento das tensões com a China e o enfraquecimento da posição dos EUA como líder da ordem económica liberal internacional.

A estratégia de Trump, centrada numa retórica de “recuperação da soberania económica”, é vista como de alto risco e de baixa previsibilidade. À medida que mais líderes empresariais e políticos se distanciam da política tarifária, cresce a pressão interna e externa para uma correcção de rumo — ou, pelo menos, para contenção dos danos.

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Diplomacia de última hora sem resultados com Pequim

Apesar de Trump ter promovido uma ronda de negociações com líderes da Coreia do Sul, Japão, Itália e outros países asiáticos e europeus, o mesmo não se aplicou à China. O ex-presidente acusou as autoridades chinesas de inércia e ausência de estratégia. “Estamos à espera do chamado deles. Isso vai acontecer!”, afirmou, numa tentativa de manter a pressão pública e diplomática sobre Pequim.

Trump insinuou que o país asiático “quer muito” um acordo, mas que não sabe como iniciar o processo. Esta postura levanta dúvidas quanto à seriedade do esforço diplomático para evitar uma escalada no conflito comercial. Pequim, por sua vez, adoptou uma posição firme. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros reagiu dizendo:

“As guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores, e o proteccionismo não leva a lugar algum. Nós, chineses, não somos criadores de problemas, mas não hesitaremos quando eles surgirem em nosso caminho.”

A declaração deixou claro que a China está preparada para retaliar proporcionalmente, afastando qualquer cenário de concessão imediata.

Aliados em busca de alívio e negociações paralelas

A administração Trump procurou dar prioridade a aliados considerados “fiáveis” e “respeitosos” das expectativas comerciais americanas. O Japão foi apontado como caso exemplar por não retaliar perante as medidas unilaterais dos EUA. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, revelou que Tóquio terá prioridade na agenda diplomática. Trump conversou com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, que apelou à reversão das tarifas.

Na Europa, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, prepara-se para uma deslocação aos EUA, numa tentativa de assegurar a exclusão da Itália das tarifas em vigor. Israel e Coreia do Sul também mantêm diálogos activos. Este último país poderá negociar concessões sobre tarifas, construção naval e a importação de gás natural liquefeito, conforme indicado pela Casa Branca.

Impacto económico imediato e volatilidade nos mercados

O anúncio do pacote tarifário agitou os mercados financeiros. O índice S&P 500 registou uma valorização de 3,4% na abertura, enquanto o Nasdaq 100 subiu 3,5%. Os investidores mostraram-se inicialmente confiantes na possibilidade de adiamento ou reversão das medidas. No entanto, à medida que o discurso de Trump endurecia, os ganhos foram parcialmente revertidos.

O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, confirmou no Congresso que as tarifas entrarão em vigor, mas frisou que os EUA estão abertos à negociação. “Se tiverem uma ideia melhor para alcançar a reciprocidade e reduzir o nosso défice comercial, queremos conversar. E isso vale para os dois lados”, afirmou Greer.

Divisões internas e ruído político

Nem mesmo dentro do círculo restrito de Trump há consenso sobre a abordagem adoptada. Elon Musk, conselheiro e figura de destaque no sector tecnológico, criticou publicamente o conselheiro comercial Peter Navarro, chamando-o de “idiota” numa publicação na rede X (ex-Twitter). Esta fractura interna pode reflectir tensões mais profundas entre o pragmatismo económico e o radicalismo ideológico que caracteriza a estratégia proteccionista de Trump.

O director do Conselho Económico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, procurou clarificar a ordem de prioridades: “O presidente decidiu que devemos avançar primeiro com os nossos aliados. Quanto à China, será o presidente a decidir se e quando haverá diálogo directo.”

Cenário global: isolacionismo, retaliação e incerteza

O movimento de Trump reforça a sua visão de mundo centrada numa lógica de “America First”, onde o comércio internacional é abordado sob a lente da supremacia de interesses nacionais imediatos. A multiplicação de tarifas sobre mais de 60 países e a ausência de uma estratégia multilateral clara abrem espaço para retaliações em cadeia, aumento de custos de produção, escassez de matérias-primas e deterioração das cadeias logísticas.

A relação com a China, no entanto, permanece o ponto mais sensível. A imposição de uma tarifa de 104% é um gesto de agressividade extrema no comércio internacional e poderá ter repercussões graves no fornecimento global de bens electrónicos, maquinaria, fertilizantes, semicondutores, entre outros.

Com as novas tarifas, Trump procura marcar a sua posição num cenário eleitoral cada vez mais polarizado, apostando na retórica nacionalista e no discurso de soberania económica. Resta saber se esta estratégia produzirá os ganhos desejados a curto prazo ou se desencadeará uma guerra comercial de maiores proporções, com impacto directo nos consumidores americanos e nas economias interligadas ao sistema global de comércio.

Fonte: O Económico

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