Trump adia proibição e TikTok restaura serviços nos EUA em meio a tensões geopolíticas

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O TikTok, uma das maiores plataformas de partilha de vídeos do mundo, foi centro de uma das mais intensas batalhas políticas e económicas entre os Estados Unidos e a China nos últimos anos. Com mais de 170 milhões de utilizadores nos EUA, a plataforma de propriedade da ByteDance enfrentou acusações de representar uma ameaça à segurança nacional americana, numa disputa que transcende o simples âmbito tecnológico e reflete profundas tensões geopolíticas.

Historial da Controvérsia: Da Proibição à tentativa de salvamento

A controvérsia em torno do TikTok remonta ao primeiro mandato de Donald Trump, quando, em 2020, o então Presidente ameaçou banir a aplicação por alegações de que a ByteDance estaria a compartilhar informações dos utilizadores com o Governo chinês. Trump assinou uma ordem executiva que dava 90 dias à ByteDance para vender as operações do TikTok nos EUA a uma entidade americana. Entre as opções consideradas, um acordo envolvendo a Oracle e o Walmart parecia iminente, mas nunca foi concretizado.

Mais recentemente, durante a campanha presidencial de 2024, Trump alterou o seu discurso em relação ao TikTok, elogiando a plataforma pelo impacto positivo no alcance aos jovens eleitores. Esta mudança de tom culminou na decisão de adiar a aplicação de uma nova lei que proibia o TikTok nos EUA, marcada para entrar em vigor no dia seguinte à posse de Trump.

A nova estratégia de Trump e o debate sobre soberania digital

Com o retorno de Trump ao poder, o TikTok iniciou o processo de restauração dos seus serviços no Domingo, após a declaração do Presidente eleito de que emitiria uma ordem executiva para adiar a proibição. Trump propôs a criação de uma joint venture com 50% de participação americana, argumentando que tal medida permitiria proteger a segurança nacional e, ao mesmo tempo, preservar os benefícios económicos da aplicação. No entanto, a ByteDance, que é 60% controlada por investidores institucionais como BlackRock e General Atlantic, não indicou disposição para aceitar esta solução.

A decisão de Trump também foi criticada por figuras do próprio Partido Republicano. Os senadores Tom Cotton e Pete Ricketts, em declaração conjunta, afirmaram que qualquer extensão do prazo para a venda do TikTok é inconsistente com a lei aprovada pelo Congresso e que o único caminho seria a alienação total das operações americanas.

Impactos económicos e geopolíticos: Muito além do TikTok

A controvérsia envolvendo o TikTok reflecte a competição mais ampla entre os EUA e a China pela supremacia tecnológica. Para Washington, o controlo sobre os dados de milhões de utilizadores americanos é visto como uma questão de soberania e segurança nacional, especialmente num momento em que as tensões comerciais e políticas entre os dois países continuam a crescer.

Por outro lado, a China acusa os EUA de usar o poder estatal para reprimir empresas chinesas, numa estratégia que Pequim considera protecionista. A embaixada chinesa em Washington já indicou que tomará medidas para proteger os interesses legítimos das suas empresas, aumentando o risco de escalada nas relações bilaterais.

Repercussões na indústria tecnológica e na sociedade americana

A incerteza em torno do TikTok gerou uma onda de preocupações entre utilizadores, empresas e marcas que dependem da plataforma. Após a desactivação do aplicativo nas lojas da Apple e do Google, na noite de sábado, houve um aumento repentino nas pesquisas por VPNs, indicando o esforço dos utilizadores para manter acesso à plataforma.

Além disso, outras aplicações da ByteDance, como o CapCut e o Lemon8, também foram afetadas, refletindo o alcance das decisões políticas americanas na estratégia global da empresa chinesa. Pequenas empresas e criadores de conteúdo, que utilizam o TikTok para gerar receitas, enfrentam agora um futuro incerto.

Uma mudança de paradigma: A era da governança digital

O caso do TikTok marca um ponto de inflexão na forma como governos lidam com plataformas digitais globais. A disputa não é apenas sobre tecnologia ou comércio, mas também sobre valores, governança e a capacidade de definir as regras de um mercado cada vez mais interconectado.

Se, por um lado, o TikTok conseguiu evitar a proibição total com o apoio de Trump, por outro, o futuro da aplicação nos EUA continua envolto em incertezas. À medida que Washington e Pequim ajustam as suas estratégias, a história do TikTok nos EUA permanece como um exemplo emblemático das complexidades da política tecnológica no século XXI.

Fonte: O Económico

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