O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a suspensão das tarifas de 25% sobre a maioria dos produtos importados do Canadá e do México, uma medida inicialmente imposta no início da semana. A decisão representa a mais recente reviravolta na política comercial dos EUA, que tem causado forte volatilidade nos mercados e alimentado receios sobre a inflação e o crescimento económico.
A isenção temporária concedida aos dois maiores parceiros comerciais dos EUA expirará a 2 de Abril, altura em que Trump ameaça implementar um regime global de tarifas recíprocas sobre todos os parceiros comerciais dos EUA.
“No dia 2 de Abril, avançaremos com as tarifas recíprocas, e esperamos que até lá o México e o Canadá tenham feito um bom trabalho no combate ao fentanil, para que possamos focar-nos apenas na questão comercial”, declarou o Secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, à CNBC.
A decisão surge após negociações de última hora e alterações sucessivas na política tarifária, que têm criado um clima de incerteza para os investidores. Na quarta-feira, Trump isentuou os produtos automóveis das tarifas, após uma reunião com executivos das principais fabricantes dos EUA, incluindo Ford, General Motors e Stellantis.
Reacções do Canadá e do México
Em resposta à decisão de Washington, o Ministro das Finanças do Canadá, Dominic LeBlanc, anunciou o adiamento de uma segunda vaga de tarifas retaliatórias, inicialmente previstas para abranger 125 mil milhões de dólares canadianos (87,4 mil milhões de dólares norte-americanos) em produtos dos EUA.
O Canadá conseguiu ainda excluir as tarifas sobre a importação de potássio, um fertilizante essencial para a agricultura norte-americana, mas os produtos energéticos permanecem sujeitos a uma taxa separada de 10%.
Já a Presidente do México, Claudia Sheinbaum, revelou que manteve uma conversa telefónica com Trump, na qual concordaram com o adiamento das tarifas. No entanto, fontes diplomáticas indicam que as negociações tarifárias têm sido frustrantes para o Canadá e o México, devido à falta de clareza nas exigências norte-americanas.
Mercados em turbulência e riscos económicos
A incerteza comercial tem sido um factor de pressão para os mercados financeiros, com os analistas a alertarem que as tarifas poderão reacender a inflação e desacelerar a economia. Na quinta-feira, os mercados de acções dos EUA registaram fortes perdas, com o S&P 500 a recuar 1,8%, acumulando uma queda de quase 7% desde meados de Fevereiro.
“Este ciclo de avanços e recuos na política tarifária, especialmente em relação ao Canadá e ao México, está a criar incerteza nos mercados”, afirmou Bill Sterling, estratega global da GW&K Investment Management, em Boston.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que deixará o cargo no próximo domingo, foi ainda mais enfático:
“Posso confirmar que continuaremos a enfrentar uma guerra comercial lançada pelos Estados Unidos no futuro previsível.”
Fentanil e política comercial entrelaçadas
Trump justificou a imposição inicial das tarifas declarando uma emergência nacional a 20 de Janeiro, primeiro dia do seu novo mandato, citando o aumento de mortes por overdoses de fentanil. Segundo o Presidente, o opioide e os seus precursores químicos chegam aos EUA a partir da China, via México e Canadá.
A China rejeitou as acusações e afirmou que “nenhum país pode tentar suprimir a China por um lado e desenvolver boas relações connosco por outro”, nas palavras do Ministro dos Negócios Estrangeiros Wang Yi.
Entretanto, além das tarifas contra o México e o Canadá, Trump já impôs uma tarifa de 20% sobre todas as importações chinesas e duplicou a taxa de 10% sobre produtos chineses desde 4 de Fevereiro.
Futuro incerto para as relações comerciais
Apesar da suspensão temporária das tarifas, analistas alertam que a ameaça de um regime global de tarifas recíprocas a partir de Abril mantém o risco elevado para as economias da América do Norte.
As empresas, sobretudo nos sectores automóvel, energético e agrícola, permanecem em compasso de espera, avaliando os impactos das mudanças na política comercial dos EUA.
Fonte: O Económico