O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que irá impor novas tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para o mercado norte-americano. A decisão, que será oficialmente declarada na segunda-feira, constitui um novo capítulo na política comercial proteccionista que marcou a sua administração anterior e que agora se intensifica, afectando directamente importantes parceiros comerciais como o Canadá, o Brasil e o México.
O Regresso das Tarifas e o Impacto na Indústria Norte-Americana
A medida vem sobrepor-se aos direitos aduaneiros já existentes sobre os metais, reacendendo as preocupações sobre os efeitos de uma guerra comercial. No seu primeiro mandato, Trump já havia imposto tarifas semelhantes, mas posteriormente negociou isenções com alguns dos seus aliados, incluindo o Canadá, o México e o Brasil. A incerteza paira agora sobre se estas isenções continuarão a vigorar ou se os parceiros comerciais serão integralmente afectados.
A indústria norte-americana, em particular o sector do aço, registou um aumento na taxa de utilização da capacidade das suas siderúrgicas para níveis superiores a 80% em 2019, após a implementação inicial das tarifas. No entanto, essa mesma indústria viu uma queda nos últimos anos, devido à pressão de preços exercida pela China, que domina o mercado global do sector.
Canadá, Brasil e México: Os Maiores Fornecedores Atingidos
De acordo com dados do Instituto Americano do Ferro e do Aço, os principais fornecedores de aço para os Estados Unidos são o Canadá, o Brasil e o México, seguidos pela Coreia do Sul e pelo Vietname. No sector do alumínio, o Canadá destaca-se como o maior fornecedor, representando 79% das importações norte-americanas nos primeiros onze meses de 2024.
A reação por parte dos governos destes países foi imediata. O primeiro-ministro do Quebec, François Legault, alertou para os riscos desta medida, salientando que a economia norte-americana depende em larga escala do alumínio canadiano. “O Quebec exporta 2,9 milhões de toneladas de alumínio para os Estados Unidos, ou seja, 60% das suas necessidades. Preferem abastecer-se na China?”, questionou Legault na rede social X.
O ministro da Inovação do Canadá, François-Philippe Champagne, também reagiu, afirmando que o governo canadiano continuará a defender os trabalhadores e indústrias do país. A posição do Brasil e do México sobre esta nova medida ainda não é clara, mas as indústrias de ambos os países são altamente dependentes do mercado norte-americano
Tarifas Recíprocas: Um Novo Elemento na Disputa Comercial
Além das tarifas sobre aço e alumínio, Trump anunciou que irá também implementar um mecanismo de tarifas recíprocas, onde os Estados Unidos irão aplicar taxas equivalentes às impostas por outros países sobre os produtos norte-americanos. “Se eles nos cobram, nós cobramos-lhes também”, declarou o Presidente.
Esta medida afecta particularmente a União Europeia, que impõe uma tarifa de 10% sobre importações de automóveis dos Estados Unidos, enquanto Washington aplica apenas 2,5% sobre os veículos europeus. Trump tem criticado frequentemente esta disparidade e defende que “a Europa envia milhões de carros para os Estados Unidos, mas não aceita os nossos”.
Apesar disso, os Estados Unidos já aplicam uma tarifa de 25% sobre camiões e pickups, um segmento vital para a indústria automóvel de Detroit, onde operam a General Motors, a Ford e a Stellantis.
A Pressão sobre o Canadá e o México: Segurança Fronteiriça e Comércio
Paralelamente à imposição de tarifas, Trump ameaçou aplicar uma taxa adicional de 25% sobre todas as importações provenientes do Canadá e do México caso os dois países não intensifiquem as suas medidas de segurança fronteiriça. Esta decisão está relacionada com a política migratória e o combate ao tráfico de drogas, temas prioritários na agenda do Presidente.
O prazo para evitar a aplicação destas novas tarifas está fixado em 1 de Março. Até ao momento, tanto o Canadá como o México têm implementado algumas concessões para evitar as penalizações. O México comprometeu-se a mobilizar 10 mil efectivos da Guarda Nacional para reforçar o controlo na sua fronteira, enquanto o Canadá reforçou as suas equipas de segurança e introduziu novas tecnologias para combater o tráfico de fentanil.
Questionado sobre se estas medidas seriam suficientes para evitar as tarifas, Trump respondeu de forma taxativa: “Não, não são suficientes. Algo tem de mudar, não é sustentável e eu vou mudá-lo”.
O Risco de uma Nova Guerra Comercial
A decisão de Trump de aumentar as tarifas sobre o aço e o alumínio, aliada às ameaças de tarifas recíprocas e às exigências em relação à segurança fronteiriça, reacende tensões comerciais que podem ter consequências significativas na economia global.
Os mercados já reagiram negativamente, com os índices Dow Jones e S&P 500 a caírem quase 1% após o anúncio, refletindo preocupações dos investidores sobre os impactos da medida. Com a iminente revisão do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (USMCA) em 2026, a incerteza gerada por esta nova política pode acelerar renegociações e alterar significativamente o panorama comercial dos Estados Unidos nos próximos anos.
Fonte: O Económico