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O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a lançar um aviso que reacende incertezas sobre o comércio internacional ao afirmar que, nas próximas semanas, irá impor tarifas unilaterais a diversos parceiros comerciais, caso não sejam concluídos acordos específicos. “Vamos enviar cartas dentro de uma semana e meia, duas semanas, a dizer qual é o acordo. Podem aceitar ou rejeitar”, declarou Trump a jornalistas em Washington, no dia 11 de Junho, durante um evento no Kennedy Center.
A ameaça surge no contexto da aproximação de uma nova data-limite — 9 de Julho — para o fim da trégua tarifária que o próprio Trump estabelecera, após ter anunciado, em Abril, tarifas mais pesadas sobre várias economias, mas suspendendo a sua entrada em vigor por 90 dias. Até ao momento, os únicos entendimentos avançados foram com o Reino Unido e, parcialmente, com a China.
Apesar de a administração norte-americana admitir estender o prazo para países que negoceiam “de boa-fé”, o Presidente tem dado sinais contraditórios. “Acho que não vamos precisar disso”, comentou, mostrando pouco interesse em retomar uma via negocial tradicional.
A nova abordagem, segundo a imprensa norte-americana, representa um afastamento da estratégia de negociação bilateral com múltiplos países, e uma viragem para imposições directas e generalizadas. Trump reconheceu que os EUA “não têm capacidade para negociar dezenas de acordos simultâneos”, e por isso, dará prioridade a países como Índia, Japão, Coreia do Sul e, eventualmente, à União Europeia — embora o próprio secretário do Comércio, Howard Lutnick, tenha manifestado frustração com a complexidade de negociar com o bloco de 27 países.
As consequências desta retórica podem ser significativas. Os mercados reagiram negativamente a anúncios anteriores, e a falta de clareza sobre quais países serão afectados pelas novas tarifas agrava a instabilidade global. A trégua com a China também está sob pressão, com relatos de desentendimentos sobre os termos e prazos da flexibilização nas exportações de terras raras e componentes electrónicos.
Entretanto, uma parte da imprensa financeira norte-americana tem-se referido às promessas tarifárias de Trump como parte de um padrão conhecido como “TACO” — Trump Always Chickens Out — aludindo ao facto de o presidente anunciar medidas duras e, em seguida, recuar sob pressão dos mercados ou de aliados internos. Confrontado com esta referência, Trump reagiu com veemência: “Não digam isso. É a pergunta mais desagradável que já ouvi”, afirmou a um jornalista, visivelmente incomodado.
Apesar do ruído retórico, permanece a dúvida sobre se Trump realmente avançará com a implementação total das tarifas prometidas ou se recuará uma vez mais. A incerteza, contudo, já está a condicionar decisões de investimento e a colocar pressão sobre parceiros comerciais que, até agora, contavam com a previsibilidade de negociações diplomáticas convencionais.
Enquanto o relógio avança para a data-limite de 9 de Julho, os mercados e governos seguem atentos ao próximo movimento da Casa Branca — numa fase em que os equilíbrios do comércio global continuam frágeis e susceptíveis a impulsos unilaterais.
Fonte: O Económico