A União Europeia (UE) anunciou na quarta-feira, 12 de Março, a imposição de tarifas retaliatórias sobre 26 mil milhões de euros (28,3 mil milhões de dólares) de produtos norte-americanos, em resposta à decisão dos Estados Unidos de elevar os direitos aduaneiros sobre o aço e o alumínio. A medida marca uma nova escalada na tensão comercial entre dois aliados históricos.
Escalada de Tensões Comerciais
Horas antes do anúncio europeu, a administração dos EUA decretou tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio, justificando a decisão com preocupações de segurança nacional. A resposta da UE, segundo a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é “forte, mas proporcional”. Em conferência de imprensa em Estrasburgo, von der Leyen reforçou que “não é do interesse comum sobrecarregar as economias com tais tarifas”.
As novas tarifas aplicadas pela UE serão significativamente superiores às impostas durante o primeiro mandato de Donald Trump, quando os EUA visaram exportações europeias de metais no valor de 7 mil milhões de dólares. Agora, além dos metais, a UE alarga as tarifas a produtos norte-americanos como têxteis, produtos agrícolas e electrodomésticos. Produtos anteriormente afectados por disputas comerciais, como barcos, bourbon e motos, também voltarão a estar sujeitos a taxas agravadas.
Impacto Económico e Geopolítico
O mercado europeu do aço prevê um duplo impacto negativo: uma redução das exportações para os EUA e um aumento das importações devido à redistribuição do metal que anteriormente se destinava ao mercado norte-americano. “O mercado da UE, já saturado com importações de aço barato da Ásia, do Norte de África e do Médio Oriente, deverá ser ainda mais inundado”, alertou um porta-voz da Eurofer, associação europeia da indústria siderúrgica.
Os produtores de alumínio também se preparam para uma maior pressão competitiva, especialmente com a previsível entrada em massa de alumínio canadiano na Europa, uma vez que o Canadá é o principal fornecedor do metal para os EUA.
Negociações e Possibilidades de Acordo
Maros Sefcovic, chefe do comércio da UE, deslocou-se a Washington no mês passado para tentar negociar uma solução com o Secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Entre as propostas europeias, estavam a redução de tarifas sobre produtos industriais, incluindo automóveis – uma das exigências de longa data de Trump – e o aumento das importações de gás natural liquefeito e produtos de defesa dos EUA. Contudo, sem avanços significativos, Bruxelas decidiu avançar com a retaliação pautal.
A UE há muito advertira que qualquer aumento de tarifas por parte dos EUA resultaria numa resposta “rápida e proporcional”. O bloco de 27 nações trabalhou em listas de produtos que teriam impacto político significativo nos Estados Unidos, visando sectores económicos estratégicos e mercados eleitorais sensíveis.
Histórico da Disputa
A guerra comercial entre a UE e os EUA teve início em 2018, quando Trump impôs tarifas sobre os metais europeus. Na época, Bruxelas rejeitou a justificativa de segurança nacional e respondeu com tarifas retaliatórias sobre produtos icónicos dos EUA, como motos Harley-Davidson e calças de ganga Levi Strauss & Co.
Em 2021, ambas as partes chegaram a um acordo temporário, com os EUA a reduzirem algumas tarifas e a UE a suspender as suas medidas restritivas. No entanto, essa trégua foi desfeita com a recente decisão da administração norte-americana de reintroduzir as tarifas sobre metais, levando Bruxelas a responder com medidas de igual magnitude.
Com esta nova escalada de tensões, resta saber se as duas potências comerciais estarão dispostas a regressar à mesa das negociações para evitar uma guerra comercial prolongada que poderia prejudicar significativamente ambos os lados do Atlântico.
Fonte: O Económico